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"Terapia do frio" baixa temperatura do corpo para recuperar organismo

O efeito terapêutico das baixas temperaturas é conhecido há 2.500 anos, desde quando os egípcios faziam uso do frio para tratar feridas e inflamações e os gregos utilizavam gelo ou neve para estancar um sangramento ou reduzir um inchaço.

Temperaturas baixas favorecem a vasoconstrição, diminuem a sensação de dor e reduzem inflamação, edemas e metabolismo.

Essas características não mudaram com o tempo, mas suas possibilidades de aplicação se expandem cada vez mais, na forma de uma técnica que ficou conhecida como hipotermia terapêutica.

A hipotermia é uma condição geralmente ruim para o paciente, que não consegue controlar a temperatura corpórea e pode sofrer sequelas ou morrer, pois o organismo necessita estar a 37ºC, em média, para funcionar bem.

Mas, quando é terapêutica, a técnica favorece procedimentos cirúrgicos ou reduz inflamações por esse mesmo mecanismo, desde que sempre haja controle médico rigoroso.

Um bom exemplo é a hipotermia local na cabeça de pacientes que precisam se submeter à quimioterapia.

A alopecia é um dos mais temidos efeitos colaterais do tratamento de câncer, especialmente por mulheres. A combinação de drogas utilizada na quimioterapia atinge o bulbo capilar e causa a queda do fio.

Estudos iniciais realizados no IPC (Instituto Paulista de Cancerologia) mostram que, no primeiro ciclo de quimioterapia, pacientes que passaram pela hipotermia perderam 20% dos seus cabelos, enquanto as que não usaram a técnica de resfriamento tiveram uma queda de 70% dos fios. Estudos europeus têm dados parecidos.

O paciente usa uma touca com um gel congelado a uma temperatura de -25ºC. A touca é colocada na cabeça 15 minutos antes do início da aplicação dos quimioterápicos e trocada a cada 45 minutos. Cada sessão de químio dura, em média, duas horas.

Segundo o médico Hézio Jadir Fernandes Júnior, diretor do IPC e responsável pelo projeto, quando o couro cabeludo é submetido a baixas temperaturas, ocorre uma vasoconstrição e uma diminuição do fluxo sanguíneo, fazendo com que os medicamentos da químio atinjam o bulbo capilar com menos intensidade.

Mas ele avisa que o método não evita completamente a perda de cabelo. "Sempre há alguma queda, em torno de 20%, 30%. Isso não é o suficiente para deixar a mulher calva, mas muitas se incomodam com as falhas e preferem cortá-lo. Outras não conseguem ficar sete dias sem lavar o cabelo [o que é recomendado após a hipotermia]", explica o médico.

A professora Adelaide Tavares Rancan, 39, fez três ciclos de quimioterapia com hipotermia e, apesar de ter perdido quase metade do cabelo, se diz satisfeita. "Tinha muito medo de perder tudo. Na frente e nas laterais da cabeça quase não caiu. Atrás, dá para perceber algumas falhas. Mas uso um chapeuzinho e está tudo bem", diz ela, que teve diagnosticado um câncer de mama em 2008.

Apenas uma das 12 pacientes que usaram a técnica até agora se queixou de desconforto em relação ao frio, afirma Fernandes Júnior. "Tomamos um cuidado muito grande no desvio da orelha, para que o frio não afete o pavilhão auditivo."

Fonte: Folha Online

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