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Fatos e mitos sobre os BRIC's

O acróstico BRIC, a partir de Brasil, Rússia, Índia e China, tem ganho cada vez mais destaque no cenário internacional. Ele teria sido utilizado pela primeira vez por analistas da Goldman Sachs em um estudo especulativo sobre o desenvolvimento futuro desses países.

Posteriormente, a mídia se encarregou de disseminá-lo e torná-lo relativamente popular. Permite até mesmo uma analogia com o brick (tijolo ou bloco, em inglês), o que pode ser interpretado no sentido da construção de novos blocos de poder.

Não sem razão. Se tomarmos o ranking dos dez maiores países do mundo pelo critério de PIB (Produto Interno Bruto) por Paridade de Poder de Compra (PPC), vamos encontrar a China em segundo lugar, com um PIB-PPC de US$ 9,4 trilhões, logo após os EUA, em primeiro. A Índia aparece em quarto lugar, logo após Japão e Alemanha, com um PIB de US$ 3,6 trilhões. O Brasil ocupa a nona posição, com US$ 1,6 trilhão, e a Rússia, com US$ 1,5 trilhão, a décima.

Embora o Brasil tenha apresentado um crescimento econômico muito baixo, de apenas 2,5% na média anual dos últimos 25 anos, ainda está entre as dez maiores economias do mundo. O alto crescimento dos três demais países, em média de 6,5% no mesmo período, lhes tem dado um importante diferencial. Eles também se destacam pelas elevadas taxas de investimentos. A China, por exemplo investe mais de 40% do PIB. Os demais investem menos que isso, mas acima dos 21% do Brasil.

É interessante notar o papel do investimento direto estrangeiro (IDE) no processo. Embora seja dado grande destaque para o fato de os fluxos anuais destinados à China superarem de longe os do Brasil, visto sob outro ângulo a situação é diferente.

O estoque total do IDE acumulado historicamente, destinado aos países do BRIC proporcionalmente aos seus PIB's, é uma medida relativa mais adequada para avaliação do seu grau de internacionalização. Considerando-se esse critério, o Brasil está em primeiro lugar, com 25,4% do PIB, um estoque de IDE de US$ 201,2 bilhões. A Rússia, com 17,3%, é o segundo. A China, embora tenha em valores absolutos o maior estoque, de US$ 317,9 bilhões, esse equivale a apenas 14,3% do PIB. No caso da Índia, essa participação é ainda menor, de apenas 5,8%:

Valores em US$ bilhões - posição de 2005

País Estoque de IDE % do PIB % da FBKF
Brasil 201,2 25,4 9,5
Rússia 132,5 17,3 10,5
Índia 45,3 5,8 3,5
China 317,9 14,3 9,2
Fonte elaboração Siemens/CS, com dados da UNCTAD e do FMI

O papel do IDE para o desenvolvimento desses países tem sido relevante. Ele gera impactos relevantes no padrão de produção e de comércio exterior dos países, assim como na questão tecnológica. Há uma interconexão crescente entre investimento e exportações na economia mundial. A integração às grandes cadeias produtivas globais, imprescindível para uma inserção externa ativa dos países em desenvolvimento, se dá, em grande medida, pela atração de filiais das grandes empresas globais.

Outro ponto de destaque é que embora o IDE seja relevante para as economias, ele apenas cumpre papel marginal na Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), o total de investimentos dos países, em infraestrutura, ampliação da capacidade produtiva das empresas, construção civil e máquinas e equipamentos. Mesmo no caso da China, em que o IDE é muitas vezes equivocadamente apontado como o fator dinâmico, ele equivale a apenas 9,5% da FBKF. Não muito diferente da média internacional.

Vale destacar que grande parte dos grandes players mundiais já possuem uma sólida base instalada no Brasil. É natural que destinem mais atenção a grandes mercados emergentes onde ainda não detêm a mesma posição, como é o caso dos demais integrantes do BRIC. É fundamental elevar a parcela de investimento doméstico, que representa em média 90% do total realizado pelos países, para sustentar o crescimento econômico.

O volume do mercado, o potencial de crescimento, a rentabilidade, o ambiente de negócios, as condições macroeconômicas (câmbio, inflação, juros, etc), as políticas de desenvolvimento, a regulação e o aparato burocrático continuam a representar aspectos relevantes para realização de investimentos, sejam eles domésticos ou externos.

Fonte: Antonio Corrêa de Lacerda

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