Ao fim da sessão de Stardust, quem nasceu na década de 80, certamente sairá com aquela impressão forte de filmes que nos encantavam com fantasias sobre fadas, bruxas e demônios. Com um clima de O Feitiço do Áquila, mesclado ao romance de A Lenda, visitando os momentos de boas aventuras em Hook e Labirinto, Stardust ganha crédito, não por seguir a história de Gaiman fielmente, mas por conseguir resgatar o toque honesto de fantasia, que há muito foi perdido.
Em 1998 Neil Gaiman criava uma das aventuras mais fabulosas da década. Em meio a magos, bruxas, piratas e reis, um jovem vindo do nosso mundo encontra o verdadeiro significado do amor. Um novo mundo era estabelecido e entraria na memória de quem quer que tenha contato com as aventuras de Tristan. Nas mãos do “quase” estreante Matthew Vaughn, direção e roteiro ganham vida numa obra sem grandes ambições, mas ainda assim de qualidade.
A história se passa em um vilarejo simples, chamado Wall (muro). O lugar tem esse nome devido a uma grande muralha que o separa de uma vasta pradaria O muro possui uma fenda, vigiada incansavelmente para que nenhum morador atravesse. Certo dia, o jovem Dunstan Thorne decide furar a barreira e descobre uma cidade curiosa, cheia de artefatos mágicos e pessoas de hábitos e aparência estranhas. Lá ele encontra uma jovem pela qual se apaixona, resultando numa única noite de amor. Dela nasce Tristan (Charlie Cox). Tímido e desajeitado com mulheres, o romântico Tristan sonha em levar Victória (Sienna Miller) para o altar. Em dado momento, a garota diz, em tom de brincadeira, que se ele buscasse a estrela cadente, recém caída, ela seria dele. Sem pensar, o rapaz segue numa aventura cheia de perigos e grandes descobertas.
Stardust preenche todos os espaços de uma aventura com grandes momentos, sejam eles tensos ou hilários. Vaughn busca a cada instante envolver o espectador com todos os recursos que dispõe, o que é uma boa jogada já que o roteiro extremamente linear não atinge tão bem a intensidade exigida nos diálogos.
A direção de arte, comandada pelo trio Robert Cowper (responsável por Ultimato Bourne), Phil Harvey e Peter Russell (ambos de Star Wars: Episode III), sempre que pode, retrata o mundo com riqueza de detalhes, da simples cidade até o castelo do Rei de Stormhold (Peter O’Toole), tudo criado com o objetivo (atingido) de vislumbrar. A trilha espetacular de Ilan Eshkeri (Hannibal - A Origem do Mal) capta o mundo de Gaiman para si logo no início da projeção. Precisas e indispensáveis, as canções de Eshkeri se assemelham aos arranjos de Hans Zimmer em Piratas do Caribe, com contornos suaves que fazem toda a diferença. Uma das melhores trilhas do ano.
Visto que Gaiman não é de se entregar a clichês (pelo menos não por completo), os personagens sempre reservam algumas curiosidades interessantes. O elenco faz com que o filme flua com naturalidade suficiente para que o espectador se inclua na trama. Principalmente Cox e Claire Danes. A forma como Tristan e Yvaine foram tratados pelos atores gera uma identificação gradativa, que ganha força ao final. Aliás, Yvaine é a mais fascinante das personagens. Sem necessidade de demonstrar seus sentimentos através de palavras, o recurso exclusivo usado pela garota-estrela se comunica diretamente com o espectador, nos fazendo antever boa parte da trama de uma forma criativa e nada invasiva.
Michelle Pfeiffer se divertiu bastante na pele de Lamia, uma bruxa má do melhor estilo Branca de Neve, mas munida de facas, feitiços mortais e com uma capacidade assustadora no duelo mano-a-mano. Enquanto isso, Robert De Niro entra para fazer algo totalmente diferente do que estamos habituados, exatamente por isso seria um desperdício colocar o Capitão Shakespeare nas mãos de outro que não o mal encarado De Niro.
Em tempos onde a aventura/fantasia parece passar por problemas graves, Stardust chega como uma divertida (e inteligente) fonte de entretenimento. Com momentos inspiradíssimos, duelos oportunos (um deles de uma criatividade espantosa) e uma mistura realmente agradável de emoções, a aventura de Tristan pode não ter conseguido chegar ao nível do que Gaiman reserva em seu livro, mas já é bem melhor que muitos filmes do gênero. Bastou apenas uma entrega maior de Vaughn, o medo de se perder o privou de fazer um grande filme.
Fonte: Luciano Lima
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