Enquanto os americanos reduzem gastos para sobreviver à crise econômica, os responsáveis pelo desenvolvimento da resposta de Pequim à Quinta Avenida esperam que os consumidores chineses abram seus bolsos -e gastem bastante. Há alguém no mercado interessado em um sofá de grife de US$ 22 mil?
A Jinbao Jie, ou "Rua do Tesouro Dourado", é um trecho de pomposos hotéis, clubes e lojas que visam "as pessoas mais ricas e bem-sucedidas da China", disse Robert Yao, o diretor de marketing da empresa de Hong Kong por trás do projeto.
A construção está 75% completa. Quando a peça central do projeto, o shopping center Jinbao Palace, for inaugurada em fevereiro, a elite de Pequim poderá comprar um carro esporte Bugatti ou aquele sofá italiano obrigatório -"coisas nunca antes vistas na China", diz Yao com entusiasmo.
Esse consumo ostensivo, impensável nos dias austeros do líder Mao Tsé-Tung, representaria uma imensa mudança cultural naquele que é tradicionalmente um país de poupadores cuidadosos, não grandes gastadores. Também poderia ajudar a determinar nos próximos meses se a economia chinesa sofrerá apenas uma desaceleração moderada ou sofrerá algo pior.
As fábricas exportadoras foram o principal motor do crescimento econômico fenomenal da China nos últimos 20 anos, mas à medida que as encomendas de manufaturados despencam em todo o mundo, poderá caber aos consumidores compensar a redução.
Yao diz que seus clientes de alta renda estão prontos para gastar. "As recentes mudanças econômicas significam que o investimento pode diminuir, mas não o consumo deles", ele disse.
Hu Xingdou, um professor de economia do Instituto de Tecnologia de Pequim, disse que o consumo "precisa crescer" para compensar as exportações mais fracas. Mas, ele disse, as "pessoas comuns não têm dinheiro, especialmente os camponeses, e a desigualdade de renda... está crescendo".
As novas lojas são "apenas para os ricos e estrangeiros", disse Hao Zhilong, um aposentado que consertava seu triciclo em uma rua estreita adjacente à Jinbao Jie. "Nós apenas passamos e olhamos as vitrines. Eu nunca entrei, já que nós, pessoas comuns, não podemos comprar seus produtos."
Mas a expansão continua. Hao disse que sua casa deve ser demolida no próximo ano para dar espaço para outro novo shopping center de luxo.
Os chineses foram condicionados a poupar dinheiro por causa da longa era de dificuldades antes das mudanças econômicas do final dos anos 70, e de uma fraca rede de segurança social caso adoeçam ou percam seu emprego. O lar médio gasta cerca de 28% de sua renda, segundo um recente relatório da firma de consultoria McKinsey. A taxa de poupança nos lares americanos nos últimos anos é de quase zero.
A tradição chinesa de frugalidade pode estar mudando com uma nova geração.
He Xiumei, 41 anos, de Pequim, procurava por um sofá -não na ostentosa Jinbao Jie, mas no bem mais humilde mercado de móveis Ten Mile River, no sul de Pequim, onde custam cerca de US$ 300 cada. "Quem pode comprar as coisas luxuosas como os novos ricos?" ela disse.
Entretanto, ela disse, seu filho em idade universitária está bastante disposto a adotar a cultura do crédito americana. "Eu não entendo por que ele deseja ter um cartão de crédito. Eu nunca vou querer dever a alguém na minha vida, mas ele disse que muitos de seus colegas de classe têm um, então ele também quer."
"Tudo o que ele quer é parecer bacana quando comprar itens de luxo como Nike e Adidas e presentes para sua namorada", ela suspirou.
Há sinais iniciais de que a geração mais jovem pode estar prevalecendo. Apesar da desaceleração no setor manufatureiro, um forte crescimento das vendas no varejo em outubro oferecem esperança para a economia chinesa, segundo os economistas Ting Lu e TJ Bond, do Merrill Lynch em Hong Kong. Eles previram que as medidas do governo para estimular o consumo amortecerão a desaceleração nas exportações e ajudarão a economia chinesa a crescer cerca de 8,6% no próximo ano.
O plano de estímulo econômico de US$ 586 bilhões anunciado pelo governo chinês, no mês passado, se concentra principalmente em grandes projetos de infra-estrutura como novos aeroportos e represas. Ele também busca estimular o consumo ao elevar o preço mínimo de compra para os grãos (para ajudar os produtores rurais) e aumentar os benefícios de seguridade social para os pobres. Se mais gastos é uma boa idéia a longo prazo é motivo de debate.
"Há uma certa ironia em pedir para que os consumidores chineses historicamente cautelosos aumentem seus gastos, precisamente no momento em que estão bem claros os resultados horríveis do fato dos consumidores ocidentais não terem poupado para tempos difíceis", escreveu recentemente Colin Speakman, um especialista em China do Instituto Americano para Estudos Estrangeiros, no jornal estatal "China Daily".
Todavia, as coisas vão bem na concessionária da Rolls Royce na Jinbao Jie. Lu Huan, um funcionário de marketing, disse que as vendas de carros de mais de US$ 1 milhão saltaram de nove, em 2006, para 30 em 2007 e quase 50 em 2008. "A desaceleração afetou a confiança de alguns consumidores", disse Lu, "mas eles ainda têm dinheiro para gastar".
A Jinbao Jie, ou "Rua do Tesouro Dourado", é um trecho de pomposos hotéis, clubes e lojas que visam "as pessoas mais ricas e bem-sucedidas da China", disse Robert Yao, o diretor de marketing da empresa de Hong Kong por trás do projeto.
A construção está 75% completa. Quando a peça central do projeto, o shopping center Jinbao Palace, for inaugurada em fevereiro, a elite de Pequim poderá comprar um carro esporte Bugatti ou aquele sofá italiano obrigatório -"coisas nunca antes vistas na China", diz Yao com entusiasmo.
Esse consumo ostensivo, impensável nos dias austeros do líder Mao Tsé-Tung, representaria uma imensa mudança cultural naquele que é tradicionalmente um país de poupadores cuidadosos, não grandes gastadores. Também poderia ajudar a determinar nos próximos meses se a economia chinesa sofrerá apenas uma desaceleração moderada ou sofrerá algo pior.
As fábricas exportadoras foram o principal motor do crescimento econômico fenomenal da China nos últimos 20 anos, mas à medida que as encomendas de manufaturados despencam em todo o mundo, poderá caber aos consumidores compensar a redução.
Yao diz que seus clientes de alta renda estão prontos para gastar. "As recentes mudanças econômicas significam que o investimento pode diminuir, mas não o consumo deles", ele disse.
Hu Xingdou, um professor de economia do Instituto de Tecnologia de Pequim, disse que o consumo "precisa crescer" para compensar as exportações mais fracas. Mas, ele disse, as "pessoas comuns não têm dinheiro, especialmente os camponeses, e a desigualdade de renda... está crescendo".
As novas lojas são "apenas para os ricos e estrangeiros", disse Hao Zhilong, um aposentado que consertava seu triciclo em uma rua estreita adjacente à Jinbao Jie. "Nós apenas passamos e olhamos as vitrines. Eu nunca entrei, já que nós, pessoas comuns, não podemos comprar seus produtos."
Mas a expansão continua. Hao disse que sua casa deve ser demolida no próximo ano para dar espaço para outro novo shopping center de luxo.
Os chineses foram condicionados a poupar dinheiro por causa da longa era de dificuldades antes das mudanças econômicas do final dos anos 70, e de uma fraca rede de segurança social caso adoeçam ou percam seu emprego. O lar médio gasta cerca de 28% de sua renda, segundo um recente relatório da firma de consultoria McKinsey. A taxa de poupança nos lares americanos nos últimos anos é de quase zero.
A tradição chinesa de frugalidade pode estar mudando com uma nova geração.
He Xiumei, 41 anos, de Pequim, procurava por um sofá -não na ostentosa Jinbao Jie, mas no bem mais humilde mercado de móveis Ten Mile River, no sul de Pequim, onde custam cerca de US$ 300 cada. "Quem pode comprar as coisas luxuosas como os novos ricos?" ela disse.
Entretanto, ela disse, seu filho em idade universitária está bastante disposto a adotar a cultura do crédito americana. "Eu não entendo por que ele deseja ter um cartão de crédito. Eu nunca vou querer dever a alguém na minha vida, mas ele disse que muitos de seus colegas de classe têm um, então ele também quer."
"Tudo o que ele quer é parecer bacana quando comprar itens de luxo como Nike e Adidas e presentes para sua namorada", ela suspirou.
Há sinais iniciais de que a geração mais jovem pode estar prevalecendo. Apesar da desaceleração no setor manufatureiro, um forte crescimento das vendas no varejo em outubro oferecem esperança para a economia chinesa, segundo os economistas Ting Lu e TJ Bond, do Merrill Lynch em Hong Kong. Eles previram que as medidas do governo para estimular o consumo amortecerão a desaceleração nas exportações e ajudarão a economia chinesa a crescer cerca de 8,6% no próximo ano.
O plano de estímulo econômico de US$ 586 bilhões anunciado pelo governo chinês, no mês passado, se concentra principalmente em grandes projetos de infra-estrutura como novos aeroportos e represas. Ele também busca estimular o consumo ao elevar o preço mínimo de compra para os grãos (para ajudar os produtores rurais) e aumentar os benefícios de seguridade social para os pobres. Se mais gastos é uma boa idéia a longo prazo é motivo de debate.
"Há uma certa ironia em pedir para que os consumidores chineses historicamente cautelosos aumentem seus gastos, precisamente no momento em que estão bem claros os resultados horríveis do fato dos consumidores ocidentais não terem poupado para tempos difíceis", escreveu recentemente Colin Speakman, um especialista em China do Instituto Americano para Estudos Estrangeiros, no jornal estatal "China Daily".
Todavia, as coisas vão bem na concessionária da Rolls Royce na Jinbao Jie. Lu Huan, um funcionário de marketing, disse que as vendas de carros de mais de US$ 1 milhão saltaram de nove, em 2006, para 30 em 2007 e quase 50 em 2008. "A desaceleração afetou a confiança de alguns consumidores", disse Lu, "mas eles ainda têm dinheiro para gastar".
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