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* AR ERRO 08/03/2009 - 00h01 Barbie, ícone da mulher sempre jovem, chega aos 50

Nós odiamos a Barbie. Nós amamos a Barbie.

Condenamos o formato irreal do corpo da Barbie, culpando-a pela epidemia de anorexia e bulimia e pelo fato de garotas de 15 anos de idade tomarem Prozac.

Gostaríamos que as pessoas que não param de falar sobre os horrores da Barbie ficassem quietas e fossem viver.

Assim como acontece com os cigarros, o McDonald's e a pornografia, nossas filhas são proibidas até de pensarem sobre a Barbie.

Ou então instalamos mais prateleiras nos quartos delas para mostrar a coleção cada vez maior de bonecas.

Barbie, por sua vez, fica feliz com o fato de que todos continuem falando a seu respeito. Ela vai fazer 50 anos esta semana, e a companhia Mattel comemora o aniversário com muito marketing e publicidade, incluindo uma versão contemporânea da Barbie original, que será revelada na segunda-feira, exatamente meio século depois que a Barbie foi colocada no mercado. A nova Barbie terá um novo "formato de rosto", de acordo com as informações divulgadas à imprensa.

A longevidade invejável da Barbie vem de muitas fontes, mas uma delas deve estar relacionada com a polêmica que a persegue.

"Se ela não fosse controversa, seria chata. E teria sido esquecida há 20 anos", diria sua indiscreta relações públicas de Nova York, se a Barbie fosse uma estrela de carne e osso e tivesse uma indiscreta relações públicas de Nova York.

Qualquer relações públicas mataria por uma estrela como a Barbie.

Se a Barbie fosse uma estrela, ela seria um pouco como Madonna (empreendedora, camaleônica), teria um quê de Angelina Jolie (idealista, viajada) e um brilho de Britney Spears (excêntrica). Além disso, há um toque de Courtney Love na Barbie, devido ao seu histórico de escândalos.

Talvez isso explique porque os ótimos profissionais de mídia da Mattel escolheram a música "Doll Parts", da banda Hole, liderada pela cantora Courtney Love, para celebrar o 50º aniversário da Barbie no site da companhia. Entre outras coisas, a música sugere o sexo e o uso de heroína. Enquanto Love canta sobre suas "veias grandes" (ótimas para as agulhas!), aparece uma procissão de Barbies, com lábios brilhantes como vinil vermelho, usando sandálias sensuais.

Ou talvez todo o lance Courtney Love, heroína e sexo da Barbie tenha sido um erro da Mattel, como quando eles lançaram a "Oreo Fun Barbie", uma promoção conjunta com a Nabisco em 1997, em que Barbies brancas e negras vinham embaladas com biscoitos Oreo. Não levou muito tempo para que a Mattel, e a Nabisco, descobrissem que Oreo é usado como um termo racial pejorativo.

Teve também o lançamento da boneca falante "Teen Talk Barbie" de 1992 que, entre outras coisas, dizia "aula de matemática é difícil". Depois de protestos, eles cortaram a frase do léxico da boneca. A Arábia Saudita baniu a boneca, classificando-a como um "símbolo de decadência do Ocidente pervertido". Justamente este mês, um político da Virgínia Ocidental entrou com um projeto de lei para "proibir a venda de bonecas Barbie e outras bonecas que influenciem as meninas a serem bonitas". Também este mês, uma nova Barbie chamada "Totally Stylin'
Tatoo Barbie" chegou às prateleiras. Ela vem com adesivos de tatuagem para a boneca, e uma "pistola de tatuagem" para as meninas aplicarem suas próprias tatuagens temporárias. Como era de se esperar, isso gerou protestos.

Os escândalos se acumularam, assim como as paródias. Basta buscar o nome da boneca no YouTube, e você encontrará um cara mergulhando uma Barbie numa panela de água fervente. Ele grita e dá risada. Há Barbies fazendo sexo, é claro, e também um comercial falso para uma boneca falsa chamada "Goth Barbie" ["Barbie Gótica"]: "Se o desespero da sua existência é muito grande para ser suportado, teça um tapete de dor com a nova Barbie Gótica! As proporções inatingíveis da Barbie Gótica irão estilhaçar sua autoimagem nas pedras da melancolia!"

O programa humorístico "Saturday Night Live" já fez piada com paródias da Barbie. A última foi a "Cougar Barbie", na qual uma Barbie de 50 anos, bêbada e fumando, tenta seduzir rapazes mais novos.

O ridículo vai além dos programas da mídia de massa. Chamar uma mulher de "Barbie" é o mesmo que sugerir que ela é falsa, vazia e burra: de plástico.

Enquanto isso, os fãs da Barbie a colecionam, criam santuários, escrevem poemas para a boneca. Eles lançaram centenas de sites homenageando a Barbie no Facebook. Eles mantêm sites dedicados ao culto da Barbie. Recebem tweets sobre a Barbie no Twitter. Eles blogam sobre a Barbie. E comemoram o fato de ela ter vencido tantas outras bonecas ao longo dos anos, bonecas que fizeram sucesso, e deixaram de fazer. Modismos. Eles zombam da maior concorrente da Barbie hoje, as vulgares bonecas "Bratz".

A Barbie sorri enquanto tudo isso acontece, uma mestre Zen com saltos cor de safira e vestido branco.

Ou como a vi recentemente na loja Walgreens no centro de Denver: uma Barbie solitária no alto de uma prateleira, olhando através do plástico de sua caixa retangular. Ela usava um vestido laranja e amarelo, um cinto prateado, e sapatos plataforma vermelhos. E sorria.

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