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A turma do churrasco se transformou em quadrilha

O goleiro Bruno não vai “rir de tudo no final”, Eliza Samudio não vai aparecer com vida e briga de marido e mulher, ‘xará’, nem sempre fica impune. A confissão de um adolescente serviu de prova para que, em menos de 24 horas, os principais envolvidos no sequestro e na morte da ex-amante do jogador dormissem atrás das grades nesta quarta-feira. Mas entender como a turma do churrasco do sítio se transformou em uma quadrilha é tão complexo quanto decifrar o mosaico de versões desencontradas sobre a trajetória da jovem, com um bebê de quatro meses, até a morte macabra em Minas Gerais.

Bruno, o único interessado diretamente no sumiço de Eliza, e seu braço direito, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, são, até o momento, os mais enrolados. Estão denunciados pelo Ministério Público do Rio por sequestro. Mas não demora para os outros cinco suspeitos e o adolescente começarem, no esquema “salve-se quem puder”, a tentar escapar de uma lista de acusações que inclui subtração de incapaz, agressão, seqüestro, cárcere privado, homicídio, ocultação de cadáver, corrupção de menor e, consequentemente, formação de quadrilha.

O chefe do setor de investigação de Crimes contra a Vida da Polícia Civil mineira, delegado Wagner Pinto teve suas férias interrompidas depois das revelações bombásticas feitas pelo primo menor de idade de Bruno. Ele acredita que todas estas modalidades de crime sejam imputáveis aos amigos que, em diferentes momentos, assumiram as consequências de, pelo menos, atrapalhar a ação da polícia para proteger o goleiro.

Desde ontem o caso passou a ser tratado oficialmente como homicídio, o que aumentou o prazo do inquérito em 30 dias e garantiu tem tempo suficiente para apurar as responsabilidades individuais da turma do goleiro. “Vamos nos dedicar, agora, a tomar novos depoimentos e determinar as participações de cada um desses envolvidos”, adiantou o chefe do Departamento de Investigações da polícia mineira, Edson Moreira.

O que os investigadores já sabem, e não é difícil deduzir, é que o plano arquitetado beneficiaria diretamente o jogador – com quem Eliza tinha uma disputa na Justiça. E, além disso, era no jogador, único endinheirado do grupo, que todos se fiavam para levar adiante o plano de tirar de campo, definitivamente, a constrangedora presença da ex-amante.

Se tivesse corrido como imaginado pelos mentores, a versão do sumiço de Eliza seria a seguinte: a jovem de comportamento inconseqüente, que chegou a fazer um filme pornográfico e vivia atrás de jogadores de futebol, caiu no mundo e deixou para trás, de forma irresponsável, o filho de quatro meses. Bruno, que tem condições financeiras, assumiria de bom grado o bebê.

O plano, porém, padeceu por incompetência e alguma falta de sorte. Eliza foi vista no sítio, assim como Bruno, no período em que o jogador dizia não ter contato com ela. Um dos homens acusados de participar da ocultação de cadáver, Cleiton da Silva Gonçalves, foi parado em uma blitz com o Land Rover onde, em um exame posterior, foram descobertas manchas de sangue. E, para desespero do chefe da quadrilha, a atriz pornô revelou-se uma mãe dedicada.

"Está descartada a possibilidade de ela ter abandonado o bebê”, diz Edson Moreira, com base em depoimentos de várias testemunhas que conheciam Eliza e em uma evidência óbvia: ainda que ela só estivesse interessada em dinheiro, o que ganharia deixando para trás o pequeno Bruninho?

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