A interpretação de que a aparente imunidade de muitas crianças e idosos à gripe suína é sinal de que as vacinas existentes são eficazes contra o novo vírus pode ser otimista demais, alerta Laurie Garrett, vencedora do prêmio Pulitzer de jornalismo pela cobertura dos casos de ebola nos anos 90 e autora do livro "A Próxima Peste", sobre o aparecimento de doenças infecciosas.
Em entrevista coletiva concedida por telefone nesta segunda-feira, de Nova York, ela disse que a ideia de que crianças e idosos estão sendo poupados graças à vacinação é "uma especulação" e expôs outras explicações possíveis para a concentração de casos em jovens adultos. Formada em biologia, Garret escreveu para "Los Angeles Times" e "Washington Post", foi pesquisadora visitante na Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard e atualmente é especialista de saúde global do Council of Foreign Relations, um instituto americano de assuntos internacionais.
Garret disse que uma hipótese é a de que os jovens estejam morrendo porque o sistema imunológico deles produz uma reação exagerada ao vírus, provocando um acúmulo de líquidos nos pulmões que os "afoga" em fluidos. Isso já aconteceu no passado, na epidemia de gripe espanhola que matou cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo em 1918.
"Se você tem Aids ou passa por quimioterapia, você, ironicamente, teria pequena chance de ser atingido, porque tem um sistema imunológico enfraquecido", diz Garrett, em relação a esse tipo de vírus. "É uma questão gigante não respondida."
Saber se isso está se repetindo ou se o vírus tem outro tipo de ação no organismo pode influenciar o número de mortes que uma epidemia global poderia causar, principalmente nos países pobres sem capacidade de dar uma resposta governamental rápida à doença. Como esses países, em especial na África, são exatamente os que têm grande incidência de Aids, uma infecção dupla poderia ter consequências desastrosas. Ela destaca que alguns países africanos têm 20% da população adulta com HIV, na mesma faixa de idade que está sendo atingida pela gripe no México.
Outra possibilidade para explicar a vulnerabilidade dos jovens adultos é que o novo vírus da gripe suína seja apenas uma forma mais violenta do vírus da gripe normal, que os afeta mais por questões comportamentais --ou seja, adultos convivem mais entre si e, por isso, se infectaram mutuamente, a partir de casos iniciais entre eles. Neste caso, todos estariam vulneráveis, especialmente aqueles com sistema imunológico enfraquecido.
Garret diz que as própria letalidade do vírus e o número de pessoas infectadas ainda não são conhecidos, o que torna difícil fazer previsões sobre o alcance e a gravidade de uma eventual pandemia (epidemia de vasto alcance geográfico, talvez global). A diferença entre o México, onde pelo menos 22 pessoas morreram, e os EUA, onde não foram registrados casos fatais, ainda não foi esclarecida, disse ela, o que poderia fornecer dados para entender a ação do vírus.
Resistência
Para a especialista, o pior cenário possível seria a recombinação genética do vírus da gripe suína com um tipo de vírus H1N1 que está em circulação nos EUA desde dezembro passado e que é resistente ao medicamento Tamiflu, a primeira opção de combate aos vírus da gripe.
"Até agora, felizmente, aquele tipo de H1N1 não se recombinou e se misturou com o vírus que estamos chamando de vírus da gripe suína, mas que poderia se melhor chamado de vírus suíno, aviário e humano porque tem [...] RNA genético dos três", afirmou Garrett. "Se nós tivermos uma recombinação com o vírus resistente ao Tamiflu, eu diria que é hora de irmos para o maior dos alertas de pandemia."
Fonte: Folha Online
Em entrevista coletiva concedida por telefone nesta segunda-feira, de Nova York, ela disse que a ideia de que crianças e idosos estão sendo poupados graças à vacinação é "uma especulação" e expôs outras explicações possíveis para a concentração de casos em jovens adultos. Formada em biologia, Garret escreveu para "Los Angeles Times" e "Washington Post", foi pesquisadora visitante na Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard e atualmente é especialista de saúde global do Council of Foreign Relations, um instituto americano de assuntos internacionais.
Garret disse que uma hipótese é a de que os jovens estejam morrendo porque o sistema imunológico deles produz uma reação exagerada ao vírus, provocando um acúmulo de líquidos nos pulmões que os "afoga" em fluidos. Isso já aconteceu no passado, na epidemia de gripe espanhola que matou cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo em 1918.
"Se você tem Aids ou passa por quimioterapia, você, ironicamente, teria pequena chance de ser atingido, porque tem um sistema imunológico enfraquecido", diz Garrett, em relação a esse tipo de vírus. "É uma questão gigante não respondida."
Saber se isso está se repetindo ou se o vírus tem outro tipo de ação no organismo pode influenciar o número de mortes que uma epidemia global poderia causar, principalmente nos países pobres sem capacidade de dar uma resposta governamental rápida à doença. Como esses países, em especial na África, são exatamente os que têm grande incidência de Aids, uma infecção dupla poderia ter consequências desastrosas. Ela destaca que alguns países africanos têm 20% da população adulta com HIV, na mesma faixa de idade que está sendo atingida pela gripe no México.
Outra possibilidade para explicar a vulnerabilidade dos jovens adultos é que o novo vírus da gripe suína seja apenas uma forma mais violenta do vírus da gripe normal, que os afeta mais por questões comportamentais --ou seja, adultos convivem mais entre si e, por isso, se infectaram mutuamente, a partir de casos iniciais entre eles. Neste caso, todos estariam vulneráveis, especialmente aqueles com sistema imunológico enfraquecido.
Garret diz que as própria letalidade do vírus e o número de pessoas infectadas ainda não são conhecidos, o que torna difícil fazer previsões sobre o alcance e a gravidade de uma eventual pandemia (epidemia de vasto alcance geográfico, talvez global). A diferença entre o México, onde pelo menos 22 pessoas morreram, e os EUA, onde não foram registrados casos fatais, ainda não foi esclarecida, disse ela, o que poderia fornecer dados para entender a ação do vírus.
Resistência
Para a especialista, o pior cenário possível seria a recombinação genética do vírus da gripe suína com um tipo de vírus H1N1 que está em circulação nos EUA desde dezembro passado e que é resistente ao medicamento Tamiflu, a primeira opção de combate aos vírus da gripe.
"Até agora, felizmente, aquele tipo de H1N1 não se recombinou e se misturou com o vírus que estamos chamando de vírus da gripe suína, mas que poderia se melhor chamado de vírus suíno, aviário e humano porque tem [...] RNA genético dos três", afirmou Garrett. "Se nós tivermos uma recombinação com o vírus resistente ao Tamiflu, eu diria que é hora de irmos para o maior dos alertas de pandemia."
Fonte: Folha Online
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