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O Arcebispo Entrou Descalço

A cidade preparava-se para receber o novo arcebispo, Dom Norberto. Entrementes era aquela azáfama no palácio arquiepiscopal. Homens e mulheres corriam de cá para lá, arrumando a casa para a recepção. Seu Godofredo, porteiro e mordomo do palácio, já estava perdendo as estribeiras, de tanto nervosismo. Os intrusos e curiosos não lhe davam sossego. Ocupado em preparar a chegada do novo arcebispo, volta-e-meia tinha de interromper o trabalho para tocar os moleques do pátio:  Se eu pegar vocês de novo, sou capaz de torcer seu pescoço.
Nisto os sinos da catedral e das igrejas começaram a bimbalhar festivos, anunciando que o cortejo vinha chegando. O povo se acotovelava na praça. Os mais afoitos subiam nos muros do jardim, desafiando a vigilância dos guardas. Estes procuravam, a duras penas, manter ao menos um corredor livre na praça, enquanto Godofredo vigiava a porta principal do palácio. O cortejo vem vindo. Bispos, cônegos, monsenhores e outros muitos dignitários eclesiásticos, com suas vestes coloridas e reluzentes, atravessam a multidão, rumo ao portão do palácio. Todo o mundo erguia os olhos e punha-se nas pontas dos pés a fim de ver e conhecer o novo arcebispo. Mas ele não aparecia nunca. Todos se perguntavam: Você viu? Eu não vi ainda.
Eis que, de repente, aparece um homem alto e magro, abrindo caminho por entre a multidão que, meio frustrada, já estava invadindo o corredor. Ele vestia uma túnica toda remendada, e… estava descalço. Quis entrar também. Mas o velho porteiro barrou-lhe a entrada:  Fora daqui. Eu já disse que aqui não passa ninguém, a não ser o pessoal do cortejo. Um sorriso calmo iluminou o semblante daquele homem, que disse:- Nem por isso você vai impedir-me a entrada. Eu sou o novo arcebispo. /  O porteiro perdeu a fala, de tanto desapontamento e espanto. Quem estava chegando, era o próprio Dom Norberto que vinha tomar posse da sua diocese de Magdeburgo.- Festa no dia 6 de junho.

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