A Privada

O bom clima foi para o beleléu assim que John começou a desfilar os versos do Canto 28 do longo poema – canto de carga erótica acentuada – as jovens ruborizaram. Muitas mães tiraram as filhas da sala. A rainha, apesar da expressão facial de cera, fuzilou o rapaz com o olhar. “Eu não quero mais esse fedelho na corte”, teria dito depois. Para piorar, os comentários à boca pequena eram que a tradução de John estava sofrível. Para qualquer mortal, esse teria sido o fim de carreira, mas não para o cara-de-pau John. Viajou para a Europa, encantando as mocinhas das cortes italianas e austríacas. Continuou cometendo os seus versos de mau poeta e traduções fracas. Depois voltou para a Inglaterra, casou, teve 15 filhos e conduziu uma vida que parecia ser fadada à insignificância. Em 1596, porém, num momento de ócio na propriedade rural de sua família, começou a desenhar, com a ajuda do secretário particular, uma geringonça mecânica para a eliminação de dejetos humanos. Em 2 ou 3 dias de intensa labuta, criou a privada (um modelo bem rudimentar dela, diga-se a verdade). Ao tomar conhecimento da invenção, a rainha Elizabeth, encantada, encomendou um modelo – o que fez o esperto John enxergar uma chance de voltar aos salões da nobreza. Sua alegria, contudo, durou pouco.
Incorrigível, John escreveu um poema satírico (e medíocre) em que ironizava impiedosamente diversos nobres – e chutava o pau da barraca, com referências jocosas à rotina de evacuação intestinal da própria rainha. Foi o fim. Nem a privada salvou John Harington, que morreu no ostracismo aos 51 anos, em 1616.
Fonte: Superinterresante
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