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Nove são presos por envolvimento em esquema ilegal de escutas telefônicas

Funcionários de empresas repassavam informações a detetives e policiais. Um delegado, um escrivão e três investigadores estão envolvidos.

O delegado titular da Delegacia de Repressão a Roubo a Bancos (DRRB) do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic) Ruy Ferraz Fontes, que investigou esquema de venda de escutas telefônicas ilegais e quebras de sigilos fiscal, telefônico e bancário, afirmou na tarde desta quarta-feira (7) que das dez pessoas que tiveram as prisões decretadas pela Justiça nove estão presas e uma, foragida.

Durante a investigação, que teve início em 2004, a partir de uma denúncia de falsificação de ofícios para autorizar as escutas clandestinas, foram identificadas ao menos 20 pessoas, de dois grupos distintos, envolvidas no esquema. Foram identificadas, inclusive, as participações de um delegado, um escrivão e três investigadores da Polícia Civil, além de um coronel da reserva da Polícia Militar. Nenhum deles teve a prisão decretada.

Também participaram da entrevista na sede do Deic, na Zona Norte de São Paulo, o delegado geral da Polícia Civil, Maurício Freire, e o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Ronaldo Marzagão. “Os policiais envolvidos foram encaminhados para a Ccorregedoria da Polícia Civil, que dará prosseguimento às investigações e tomará as providências que considerar necessárias”, afirmou Freire.

Os acusados serão indiciados e responderão por formação de quadrilha e por quebras de sigilo fiscal, telefônico e bancário. O esquema funcionava a partir de agências de detetive particular de São Paulo. Duas pessoas, um homem e uma mulher, que estão presas, foram apontadas como os chefes das duas quadrilhas pelo delegado. Para que o esquema desse certo, eles contavam com a conivência de funcionários de bancos e das operadores de telefonias fixa e móvel.


Marcelo Mora/G1 Foto: Marcelo Mora/G1
Maurício Freire, Ruy Ferraz Fontes e Ronaldo Marzagão (da esq. p/ dir.) participam de coletiva na sede do Deic (Foto: Marcelo Mora/G1)

De acordo com Ruy Ferraz, mais de 100 pessoas teriam sido alvo das duas quadrilhas, inclusive o deputado federal José Aníbal, do PSDB paulista, mesmo partido do governador José Serra. “A partir de São Paulo, eles quebravam os sigilos telefônicos e bancários de pessoas do Brasil inteiro. A finalidade varia de acordo com o cliente. A maioria são casos conjugais, o marido ou a mulher interessado em saber da vida do cônjuge. Mas há casos de espionagem industrial. Já se houve algum tipo de articulação política é difícil dizer”, ressaltou, ao ser questionado se José Aníbal teria sido vítima de espionagem.

O preço apenas para executar as quebras variava de R$ 200 a R$ 2.000, dependendo da finalidade e do cliente. Por todo o serviço e pelas informações obtidas com as quebras, no entanto, não há mais detalhes sobre o quanto seria pago.

"O nosso próximo passo é analisar todo este material apreendido. São computadores, agendas e documentos que serão periciados. Com as investigações, mais nomes podem surgir e novas prisões poderão ocorrer”, disse. O delegado afirmou que ficou impressionado com a facilidade com que as quadrilhas agiam. "Chamou a atenção (o esquema), porque banalizou. Havia muita facilidade para as quebras de sigilo serem feitas", finalizou.

Prisão

Os suspeitos de integrar um esquema de venda de escutas telefônicas ilegais foram presos nesta quarta-feira. Em um ano de investigação, o Ministério Público identificou 20 pessoas - entre elas, os cinco policiais civis - envolvidas com a venda das informações sigilosas, repassadas por funcionários de operadoras de telefonia a detetives particulares e policiais. De início, foi divulgado o envolvimento de 21 pessoas no esquema.

Os promotores ainda investigam quem comprava as informações. Já se sabe, entretanto, que empresários e até políticos tiveram o sigilo quebrado ilegalmente. As prisões começaram na manhã desta quarta.

De acordo com os promotores, o esquema é dividido em três grupos diferentes. Do primeiro, participam três policiais civis. Segundo o Ministério Público, os policiais encaminhavam autorizações judiciais falsas para que a operadora grampeasse os telefones. Foram identificados também dois comerciantes que, de acordo com a promotoria, forneciam os celulares para os policiais receberem as ligações interceptadas.

O outro grupo identificado pelo Ministério Público é formado por quatro funcionários de uma operadora de celular, um investigador da Polícia Civil e funcionários de uma empresa de cartão de crédito e de um banco. Segundo a investigação, eles quebravam os sigilos telefônico e bancário de clientes e vendiam as informações.

Um delegado, um coronel da reserva da Polícia Militar, três detetives particulares, um funcionário da receita e três funcionários de operadoras de telefonia formam outro grupo que, de acordo com os promotores, negociavam as informações. Eles são suspeitos de quebrar o sigilo de mais de 100 pessoas.

Os outros 11 citados na investigação são considerados réus no processo. Eles só não foram presos porque o juiz acredita que não têm nada a acrescentar à investigação. A promotoria acredita que agora, a partir das prisões, será possível identificar os clientes desse tipo de serviço ilegal.

A Secretaria de Segurança Pública informou que a corregedoria da Polícia Civil está acompanhando as investigações. A secretaria também afirmou que por enquanto não há nada comprovado contra esses policiais, e que apenas depois da perícia do material apreendido se posicionará novamente.

Fonte: G1

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