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Faxineiro "comanda" base fantasma da PM na Augusta

Todas as manhãs, o auxiliar de limpeza Francisco Medeiros Neto, 33 anos, tira a guarita da Polícia Militar da galeria Augusta Shops, a arrasta pela calçada e a coloca na esquina das ruas Augusta e Luís Coelho, no centro de São Paulo. Nenhum policial, porém, aparece para ocupar o posto. No começo da noite, quem passa pelo local vê o faxineiro desmontar a cabine, levando-a de volta para a galeria, e baixar as portas. A cena se repete há pelo menos um ano.




O objeto fica parcialmente desmontado dentro da galeria. Com anos de prática, o
Faxineiro "comanda" base fantasma da PM na rua Augusta; guaritas desocupadas estão espalhadas pela região da Paulista


Se houvesse policial lá, dizem comerciantes da região, crimes como o assalto a uma relojoaria, a menos de dez metros da cabine vazia, poderiam ter sido evitados. "Isso virou um enfeite, não sei para que colocam aí se não tem ninguém", reclama o chaveiro Paulo Soledad, 43 anos, sobre a base policial da rua Augusta.

As guaritas desocupadas estão espalhadas por toda a região da avenida Paulista. Muitas delas são usadas por comerciantes, que põem e tiram as estruturas diariamente, como uma espécie de espantalho para os criminosos.

Ontem, das 28 cabines localizadas, apenas seis estavam ocupadas por PMs. O equipamento --cujo nome técnico é supedâneo-- foi colocado na esquina da Augusta há sete anos, com outros 39 espalhados pela região, em uma parceria da Associação Paulista Viva com a Polícia Militar. Na época, sem exceção, os policiais ficavam em dois turnos nas guaritas _durante a manhã e à tarde.

Para evitar que, à noite, a cabine de fibra de vidro avaliada em R$ 7.000 fosse alvo de vandalismo, a direção da galeria Augusta se comprometeu a guardá-la e a limpá-la. De acordo com a PM, a ajuda recebida desse e de outros comércios era uma demanda dos próprios policiais militares, que se sentiam constrangidos e vulneráveis carregando a base pela rua.

Paulista

De 28 pontos que têm guaritas da Polícia Militar na região da avenida Paulista visitados pela reportagem, apenas seis locais tinham realmente efetivo na tarde e na noite de ontem.

O Agora percorreu a avenida duas vezes, às 15h e às 19h, para checar quais postos tinham soldados da PM.

No começo da tarde, apenas 3 de 13 cabines na avenida Paulista tinham policiais. No início da noite, outros três postos tinham policiais. Durante todo o dia, apenas uma dessas guaritas permaneceu sempre ocupada.

Os postos vistos funcionando ontem pela reportagem eram nos cruzamentos da Paulista com a rua Augusta e a alameda Campinas, durante a tarde, e com as ruas Frei Caneca e Pamplona e com a avenida Brigadeiro Luís Antônio, à noite. O cruzamento com a rua Carlos Sampaio era o único ativo nos dois horários.

Comerciantes locais reclamam da falta de policiais nos pontos com guarita. "Aqui tem uns moleques que passam de bicicleta para roubar celular de quem está passando. Já vi assalto perto de cabine vazia", conta Valdomiro Menezes, 53 anos, que trabalha na banca de jornal na esquina da Paulista com a Peixoto Gomide. O grupo de ladrões citado pelo homem ficou conhecido como gangue da bicicleta.

"É errado você estar aqui às 21h, 22h, e não ter o policial ali para inibir isso", reclama o funcionário da banca.

As guaritas, instaladas a partir de 2002 por uma parceria entre a associação Paulista Viva e a Polícia Militar, seriam responsáveis pela redução de 80% na criminalidade na região, de acordo com a página na internet da entidade.

Existem vários casos de cabines que são até removidas durante a noite. Exemplos disso são as guaritas do cruzamento entre as ruas Augusta e Carlos Sampaio e a do cruzamento da avenida com a alameda Ministro Rocha Azevedo.

Além de 15 postos que estão localizados na própria avenida Paulista, há também guaritas instaladas em dez cruzamentos da alameda Santos, na alameda Jaú, na avenida Brigadeiro Luís Antônio e na rua Bela Cintra.

Outro lado

A Polícia Militar afirmou ontem que foi feita uma readequação nos locais onde os policiais ficam, o que fez com que algumas das cabines acabassem ficando vazias permanentemente. "Quando o supedâneo está vazio, pode ter certeza de que o policial foi readequado para um local próximo ou então para atuar em outra área companhia", afirmou o capitão Benedito Del Vecchio Jr., do 7º Batalhão da Polícia Militar, responsável por parte da área da avenida Paulista, que inclui a cabine vazia da rua Augusta.

Questionado sobre o porquê de, no começo do projeto, em 2002, muito mais policiais ficarem nas guaritas, ele atribuiu a responsabilidade ao grande número de blitze. "No início, não havia tantas operações como está havendo hoje, que tem Direção Segura [blitz da lei seca] e Operação Verão", afirmou.

O capitão afirmou, no entanto, que as cabines não serão abandonadas.

O presidente da Associação Paulista Vida, Nelson Baeta Neves, também disse que as bases estão vazias porque os policiais foram mandados para o litoral neste mês. "Agora, estamos vivendo um problema, porque tem muita guarita que está sem policial. Mas, em março, a situação vai estar diferente."

De acordo com ele, a cabine vazia da rua Augusta é uma exceção. "[O local] não faz parte dos pontos prioritários e ali ela [a cabine] estava patrocinada, mas a empresa saiu", afirmou.

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