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Crime organizado está em um terço das favelas, diz Beltrame

A expansão desordenada das favelas no Rio de Janeiro nos últimos anos é um risco à segurança, na avaliação do secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, que vem tentando deter o crescente poder das milícias em áreas dominadas pelo tráfico de drogas. Segundo ele, em pelo menos um terço das regiões mapeadas há a presença de um poder paralelo, do crime organizado.

"A expansão (das favelas) dificulta o nossa trabalho. Efetivamente, a sociedade precisa abrir os olhos. A desordem pública é o nascedouro dos crimes. Não tenho dúvida disso", disse o secretário.

Um estudo do Instituto Pereira Passos mostrou que, entre 1998 e 2008, a área do Rio ocupada pelas favelas cresceu 7%, o equivalente a 3 milhões de m². O Rio de Janeiro possuía 968 comunidades carentes, de acordo com o estudo, mas o secretário fala em mais de mil.

Beltrame elogiou a iniciativa do prefeito recém-empossado, Eduardo Paes (PMDB), que na primeira semana de mandato procurou dar "um choque de ordem na cidade do Rio". Segundo Paes, a proposta é limpar a cidade "de todas as ilegalidades". Foram realizadas blitzes no trânsito, remoção de ambulantes, demolição de imóveis irregulares, entre outras ações.

"É uma iniciativa excelente e inédita. É um tentativa de organizar. Às vezes o camelô da rua está não só vendendo mercadoria irregular, mas pode ser um ponto de drogas e até armas", disse Beltrame.

Para o secretário, o tráfico de drogas e as milícias aproveitam o "vácuo" do Estado para se estabelecer nas regiões carentes do Rio e criar suas próprias regras. "À medida que as favelas vão crescendo, vão surgindo grupos de excluídos. Isso, sem dúvida, tem tudo para dali nascer um relação promíscua que vira um delito em seguida", afirmou Beltrame.

"Acho que a questão do Rio é de ordem pública. Temos muitas áreas invadidas, tomadas, que não tem a ver com caso de polícia. O Estado não pensou em segurança (em anos anteriores). Depois de ações como a do Dona Marta, o Estado tem que oferecer gás, tevê à cabo, coleta de lixo... tem que se fazer presente", acrescentou o secretário, referindo-se a uma operação em que a polícia diz ter conseguido, pela primeira vez, eliminar o tráfico de drogas.

Milícia
O secretário, que está há dois anos no cargo, considera o combate às milícias ainda mais difícil. "A milícia, assim como o tráfico, entrou no vácuo do Estado. Ela é pior porque é o Estado entrando no próprio vácuo do Estado. O Poder Legislativo entrou nesse vácuo", disse.

"É mais difícil de combater (a milícia), é mais danosa, porque é um Estado que ainda usa policiais e servidores legalmente constituídos para uma atividade ilegal e alternativa", declarou Beltrame, que chamou de "marginais em dobro" os policiais ligados aos grupos paramilitares.

Relatório recente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), apontou que ao menos 171 áreas do Estado estão sob controle de milicianos. Entre os líderes desses grupos paramilitares estão políticos, servidores e policiais.

Segundo fontes, só na polícia, a estimativa é que 10%, de um efetivo de aproximadamente 38 mil policiais civis e militares, tenham ligação com os grupos paramilitares. "O problema da milícia é a politização do crime e ao mesmo tempo a criminalização da política", acrescentou Beltrame.

No ano passado, a Secretaria de Segurança, em parceira com a Polícia Federal, desarticulou a principal milícia do Estado, a Liga da Justiça. O grupo seria comandado pelo deputado estadual Natalino Guimarães e pelo irmão dele, Jerônimo Guimarães. Ambos estão presos. A filha de Jerônimo Carminha Jerominho, que também foi presa na operação, conseguiu se eleger ao cargo de vereadora na cadeia.

"Acho que conseguimos desarticular essa milícia da zona oeste. Agora, o que há são células de milícias separadas pela região", afirmou.

O secretário lembrou que o crime de prática de milícia não existe no Código Penal e é preciso relacionar a ação de um miliciano a outros crimes para decretar a prisão dele. "Por isso, às vezes demora um pouco", justificou o secretário.

Fonte: Reuters

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