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Aos medíocres do Brasileirão

Acho que quando a CBF criou o Campeonato Brasileiro de pontos corridos não imaginava que o sucesso viria tão rápido. Os seus críticos, que são muitos e poderosos (Galvão Bueno à frente), não se conformam e até hoje insistem na velha fórmula de semifinais e final. Citam, como exemplos, memoráveis decisões, como a de 1980 entre Atlético Mineiro e Flamengo. Realmente, aquela partida foi uma maravilha. Pudera.

Pelo lado do Atlético estavam em campo: João Leite, Luizinho, Cerezzo, Palhinha, Éder e Reinaldo. Pelo Flamengo: Raul, Júnior, Carpegiani, Tita, Nunes e Zico. O Flamengo venceu por 3X2 num jogo de arrepiar, onde o genial Reinaldo, apesar de contundido, quase dava uma de Ghiggia e calava o Maracanã lotado. Mas, se por um lado não temos mais "a final", temos uma nova sensação entre as torcidas, que é a celebração da mediocridade.

Se, há uns cinco anos, alguém chegasse numa mesa de bar e profetizasse que num futuro bem próximo neguinho iria lotar estádios apesar de o seu time estar na lanterna do Brasileirão, você o chamaria de louco. Só que, neste caso, você estaria cometendo, como diria Carlos Heitor Cony, um ledo e ivo engano, pois o profeta estaria coberto de razão. E, para provar, peço licença aos torcedores baianos para dar o meu testemunho de corpo presente, citando o velho João Vaqueiro, meu vizinho de roça no alto sertão da Bahia que, quando alguém ousa duvidar da sua palavra, diz: "Não mato a cobra porque a bichinha come rato. Tampouco mostro o pau, porque aí seria desmoralizar os presentes! Só digo o que eu vi!".

Depois da última rodada do Brasileirão, um desavisado que chegasse ao Aeroporto dos Guararapes poderia jurar que o glorioso Náutico Capibaribe tinha conquistado o Campeonato Brasileiro, a Libertadores ou, quiçá, a saudosa Taça Roberto Gomes Pedrosa, tamanha a loucura dos torcedores alvi-rubros pelos rios, pontes e overdrives (dá-lhes Chicos, Science e Sá!) da velha Veneza.

O que mais se via eram carros apitando a fole, bombas explodindo alhures e a cerveja vadiando pelos caldinhos, onde LGs de LCD achatavam os jogadores e enlargueciam o campo. Tudo isso porque o Náutico, apesar de ter ficado na rabeira da tabela, não caiu pra Segunda Divisão.

As manchetes dos principais jornais pernambucanos da segunda-feira também foram no embalo. "Um só coração!". "Náutico escapa na raça!". E se ele tivesse caído, será que estampariam um: "Bem feito, bando de baitôlas!"?

Pena que Nelson Rodrigues não esteja mais aqui. Acho que se ele visse o seu Fluminense escapar raspando da Série "B", faria um artigo intitulado: "Ode aos medíocres das Laranjeiras". Mas, nada impede que o mestre Ariano Suassuna, como bom torcedor do Sport que é, tire uma onda e escreva o Auto do Timbu Baleado. No final, quando todos o imaginassem morto, ele, qual um Chicó, abriria os olhinhos e iria saltitando pros braços da galera.

Fonte: Terra

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