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Resenhas IV

Repressão Pretensiosa à Literatura

Há dias que não sei o que me passa, eu abro o meu Neruda e apago o sol, misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol…

Acordo de manhã pão com manteiga, e muito muito sangue no jornal, aí a criançada toda chega, eu chego achar Herodes natural…

Às veses quero crer mas não consigo, é tudo uma total insensatez, aí pergunto a Deus ‘escute amigo, se foi pra desfazer por que é que fez…

Antes de se perguntarem por que estou escrevendo esses versos da MPB (Chico Buarque de Holanda) dos tempos do governo linha dura, na verdade nem sei. Comecei pensando em Insônia, uma das obras primas de Graciliano Ramos (todas o são) e não sei bem por que esses versinhos vieram bater em minha cabeça. Deve ter alguma ligação.

Outro dia li no blog do Alessandro Martins, um artigo onde ele indicava um site de amigos jornalistas que baixaram umas coisas sobre MPB na Ditadura Militar. Talvez tenha ficado com isso no meu subconsciente. E política por política, meu querido, “Insônia”, o livro de Graciliano Ramos, faz pensar e por mais que demos voltas ao mundo das Letras e das Histórias, não tem jeito, acabamos percebendo que o homem nasceu para falar de si mesmo. Então todos os caminhos levam a ele próprio, é fato.

Ah, sim, os versos aí em cima têm ligação com o fato deste estupendo romancista brasileiro ter sido amigo de Luis Carlos Prestes, porque era comunista convicto e foi preso no governo de Getúlio Vargas, onde ganhamos em consequência o belíssimo Memórias do Cárcere (editado pós mortis) que também faz parte de minha coleção Graciliano Ramos. Ateu e comunisra convicto, é um dos proeminentes do Romance de 30.

Insônia - Graciliano RamosInsônia Compare preços e economize dinheiro

Li Insônia há algum tempo quando era sócia do Círculo do Livro, onde comprávamos no mínimo três livros por bimestre. Dentre tantas obras primas adquiri esta que, como é obrigatório dizer, mudou minha vida.

O mestre Graciliano Ramos nasceu em Alagoas, 1892. Se tivesse que falar deste maravilhoso e genial escritor brasileiro aqui, nossa, teríamos vários posts. Então infelizmente me restringirei a falar desta obra - Insônia.

É um livro de contos. Na verdade não há exatamente personagens em ação e esta é a marca genial do romancista: passeia pelos contos de Insônia um espírito inquieto, a consciência alerta e atenta a tudo, e a tudo observa e o que registra é um mundo escuro, e ela, esta consciência, não tem piedade das personagens, fazendo-as verem este mundo hostil e tão sombrio quanto a noite sem luar… o sono não vem então não há outra alternativa a não ser ficar acordado e a tudo observar. E assistir a todos os escombros sociais e psicológicos do ser humano.

Há, dentre os personagens dos contos (o que leva o nome do livro - Insônia), um que marcou em minha lembrança de tão dramático. Um ladrão, um ladrãozinho que entra numa casa pra roubar. Como sempre Graciliano Ramos expondo as vítimas sociais sem interesse em causar compaixão, longe disso, ele esfrega a vergonha do Sistema em sua cara pálida.

Este ladrão se encanta apaixonado por uma moça bonita que dorme em seu quarto, na casa que entrou para roubar e então fica a divagar, pois a linda mocinha lembra um amor seu de infância. À esta altura a arte de roubar passa a segundo plano e sobrevive uma figura exposta à lucidez de sua condição inferior, vítima como sempre de governos incompetentes.

Um dos maiores escritores do séc. XX que além de genial, com sua escrita formal que só rascunhava o “eu”, atentou para causas humanistas nos governos do Brasil.

Mas, como disse, um post é muito pouco para falar de Graciliano Ramos então, por favor, entrem um pouco mais neste universo literário do mestre alagoano, essa primazia da Literatura Brasileira. Há livros de contos maravilhosos.

Não deixem de ler Graciliano Ramos. Ou releiam.

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