Pular para o conteúdo principal

[História] Samba

O samba é um gênero musical e um tipo de dança de raízes africanas surgido no Brasil e é tido como o ritmo nacional por excelência. Considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras, o samba se transformou em símbolo de identidade nacional.[1][2]

Dentre suas características originais, está uma forma de dançar acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano[3] e levado, na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros que migraram da Bahia e se instalaram na então capital do Império. O samba de roda baiano, que em 2005 se tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco,[4][5], foi uma das bases para o samba carioca.

Apesar do samba existir em todo o país - especialmente nos Estados da Bahia, do Maranhão, de Minas Gerais e de São Paulo - sob a forma de diversos ritmos e danças populares regionais que se originaram do batuque, o samba como gênero é uma expressão musical urbana do Rio de Janeiro, onde de fato nasceu e se desenvolveu entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Foi no Rio de Janeiro que a dança praticada pelos escravos baianos migrados entrou em contato e incorporou outros gêneros musicais tocados na cidade (como a polca, o maxixe, o lundu, o xote, entre outros), adquirindo um caráter totalmente singular e criando o samba carioca urbano e carnavalesco.

Durante a década de 1910, foram gravadas algumas composições sob a denominação de samba, mas estas gravações não alcançaram grande repercussão. No entanto, em 1917, foi gravado em disco "Pelo Telefone", aquele que é considerado o primeiro samba. A canção tem a autoria reivindicada por Ernesto dos Santos, o Donga, com co-autoria atribuída a Mauro de Almeida, um então conhecido cronista carnavalesco. Na verdade, "Pelo Telefone" era uma criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa de tia Ciata, mas acabou registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional.[6]

"Pelo Telefone" foi a primeira composição a alcançar sucesso com a marca de samba e contribuiria para a divulgação e popularização do gênero. A partir daquele momento, o samba começou a se espalhar pelo país, inicialmente associado ao carnaval e posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado musical. Surgiram muitos compositores como Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô, mas os sambas destes compositores eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe.

Os contornos modernos do sambam viriam somente no final da década de 1920, a partir das inovações de um grupo de compositores dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz, e dos morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos. Desde então, surgiriam grandes nomes do samba, entre alguns como Ismael Silva, Cartola, Ari Barroso, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Zé Kéti, Ciro Monteiro, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, entre muitos outros.

A medida que o samba se consolidava como uma expressão urbana e moderna, ele passou a ser tocado nas rádios, se espalhando pelos morros cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o samba conquistaria o público de classe média também.

Derivadas do samba, outras formas musicais ganharam denominações próprias, como o samba de gafieira, o samba enredo, o samba de breque, o samba-canção, o samba-rock, o partido alto, o pagode, entre outros. Em 2007, o Iphan declarou o samba um Patrimônio Cultural do Brasil.[7][8]

O samba, além de ser o gênero musical mais popular no Brasil, é muito conhecido no exterior e está associado - assim como o futebol e o carnaval - ao país. Esta estória começou com o sucesso internacional de "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, seguiu com Carmen Miranda (apoiada pelo governo Getúlio Vargas e a política da boa vizinhança norte-americana), que levou o samba para os Estados Unidos, passou ainda pela bossa nova, que inseriu definitivamente o Brasil no cenário mundial da música. O sucesso do samba na Europa e no Japão apenas confirma sua capacidade de conquistar fãs, independente do idioma. Atualmente, há centenas de escolas de samba constituídas em solo europeu (espalhada por países como Alemanha, Bélgica, Holanda, França, Suécia, Suíça). Já no Japão, as gravadoras investem maciçamente no lançamento de antigos discos de sambistas consagrados, que acabou por criar um mercado formado apenas por catálogos de gravadoras japonesas.[9]

O samba moderno surgido a partir do início do século XX tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado, com aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, e aos quais seriam acrescentados uma ou mais partes, ou estâncias, de versos declamatórios.[10] Tradicionalmente, o samba é tocado por instrumentos de corda (cavaquinho e vários tipos de violão) e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Por influência das orquestras norte-americanas em voga a partir da Segunda Guerra Mundial, e pelo impacto cultural da música norte-americana no pós-guerra, passaram a ser utilizados também instrumentos como trombones e trompetes, e, por influência do choro, flauta e clarineta.

Além de ritmo e compasso definidos musicalmente, traz historicamente em seu bojo toda uma cultura de comidas (pratos específicos para ocasiões), danças variadas[11] (miudinho, coco, samba de roda, pernada), festas, roupas (sapato bico fino, camisa de linho etc), e ainda a pintura naif, de nomes consagrados como Nelson Sargento, Guilherme de Brito e Heitor dos Prazeres, além de artistas anônimos das comunidades (pintores, escultores, desenhistas e estilistas) que confeccionam as roupas, fantasias, alegorias carnavalescas e os carros abre-alas das escolas de samba.[1]

O Dia Nacional do Samba é comemorado em 2 de dezembro. A data foi criada por iniciativa de um vereador de Salvador, Luis Monteiro da Costa, em homenagem a Ary Barroso, que havia composto "Na Baixa do Sapateiro" embora sem ter conhecido a Bahia. Assim, 2 de dezembro marcou a primeira visita de Ary Barroso a Salvador. Inicialmente, o Dia do Samba era comemorado apenas em Salvador, mas acabou transformado em data nacional.[12][13]
Índice

[esconder]

* 1 História
o 1.1 Antecedentes
+ 1.1.1 Origens do termo samba
+ 1.1.2 Favela e Tias Baianas
o 1.2 Primeiras décadas do século XX
+ 1.2.1 "Pelo Telefone"
+ 1.2.2 Turma do Estácio
o 1.3 Popularização
+ 1.3.1 Escolas de samba e o Carnaval
+ 1.3.2 Era do rádio
+ 1.3.3 Outras vertentes e variações
o 1.4 Década de 1950
o 1.5 Década de 1960
+ 1.5.1 Reaproximação com o morro
+ 1.5.2 Fusões com o Funk e o Rock
o 1.6 Década de 1970
o 1.7 Década de 1980
o 1.8 Década de 1990
o 1.9 Samba no Século XXI
* 2 Instrumentos do samba
* 3 Ver também
* 4 Referências
* 5 Ligações externas

História

Antecedentes

Origens do termo samba
O batuque praticado durante no Brasil do século XIX, em pintura de Johann Moritz Rugendas

Existem várias versões acerca do nascimento do termo "samba". Uma delas afirma ser originário do termo "Zambra" ou "Zamba", oriundo da língua árabe, tendo nascido mais precisamente quando da invasão dos mouros à Península Ibérica no século VIII. Uma outra diz que é originário de um das muitas línguas africanas, possivelmente do quimbundo, onde "sam" significa "dar", e "ba" "receber" ou "coisa que cai".

No Brasil, acredita-se que o termo "samba" foi uma corruptela de "semba" (umbigada), palavra de origem africana - possivelmente oriunda de Angola ou Congo, de onde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil.

Um dos registros mais antigas da palavra samba apareceu na revista pernambucana O Carapuceiro, datada de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escrevia contra o que chamou de "samba d'almocreve" - ou seja, não se referindo ao futuro gênero musical, mas sim a um tipo de folguedo (dança dramática) popular de negros daquela época. De acordo com Hiram da Costa Araújo, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros escravos na Bahia eram chamadas de "samba".

Em meados do século XIX, a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidas pelos escravos africanos, sempre conduzida por diversos tipos de batuques, mas que assumiam características próprias em cada Estado brasileiro, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculiariedade de cada região em que foram assentados. Algumas destas danças populares conhecidas foram: bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-Chave e samba-de-barravento, na Bahia; coco, no Ceará; tambor-de-crioula (ou ponga), no Maranhão; trocada, coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado, no Pernambuco; bambelô, no Rio Grande do Norte; partido-alto, miudinho, jongo e caxambu, no Rio de Janeiro; samba-lenço, samba-rural, tiririca, miudinho e jongo em São Paulo.[1]

Favela e Tias Baianas

Artigo Principal: Samba-raiado
Artigo Principal: Samba-corrido
Artigo Principal: Samba-chulado
Artigo Principal: Tias Baianas

A partir da segunda metade do século XIX, a medida que as populações negra e mestiça na cidade do Rio de Janeiro - oriundos de várias partes do Brasil, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos do final daquele século - cresciam, estes povoavam as imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça Onze, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária. Estes povoamentos formariam comunidades pobres que estas próprias populações denominaram de favela (posteriormente, o termo se tornaria sinônimo de construções irregulares das classes menos favorecidas).

Estas comunidades seriam cenário de uma parte significativa da cultura negra brasileira, especialmente com relação ao candomblé e ao samba amaxixado daquela época. Dentre os primeiros destaques, estavam o músico e dançarino Hilário Jovino Ferreira - responsável pela fundação de vários blocos de afoxés e ranchos carnavalescos - e das "Tias Baianas" - termo como ficaram conhecidas muitas baianas descendentes de escravos no final do século XIX.

Dentre as principais "tias baianas", destacaram-se Tia Amélia (mãe de Donga), Tia Bebiana, Tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmem Xibuca), Tia Prisciliana (mãe de João da Baiana), Tia Rosa Olé, Tia Sadata, Tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana). Talvez a mais conhecida delas tenha sido Hilária Batista de Almeida - a Tia Ciata (Aciata ou ainda Asseata).[1]

Assim, o samba propriamente como gênero musical nasceria no início do século XX nas casas destas "tias baianas", como um estilo descendente do lundu, das festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão.[2]

Existem algumas controvérsias sobre o termo samba-raiado, uma das primeiras designações para o samba. Sabe-se que o samba-raiado é marcado pelo som e sotaque sertanejos/rural baiano trazidos pelas tias baianas ao Rio de Janeiro. Segundo João da Baiana, o samba raiado era o mesmo que chula raiada ou samba de partido-alto. Já para o sambista Caninha, este foi o primeiro nome teria ouvido em casa de tia Dadá. Na mesma época, surgiram o samba-corrido — que possuía uma harmonia mais trabalhada, mas ainda com o sotaque rural baiano - e o samba-chulado, mais rimado e com melodia que caracterizariam o samba urbano carioca.

Primeiras décadas do século XX

"Pelo Telefone"

Avó do compositor Bucy Moreira, Tia Ciata foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba carioca. Segundo o folclore de época, para que um samba alcançasse sucesso, ele teria que passar pela casa de Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias. Muitas composições foram criadas e cantadas em improvisos, caso do samba "Pelo telefone" (de Donga e Mauro de Almeida), samba para o qual também havia outras tantas versões, mas que entraria para a história da música brasileira como o primeiro a ser gravado, em 1917.[1]

Embora outras gravações tenham sido registradas como samba antes de "Pelo Telefone", foi esta composição assinada pela dupla Donga/Mauro de Almeida que é considerada como marco fundador do gênero. Ainda assim, a canção tem autoria discutida e sua proximidade com o maxixe fez com que fosse designada por fim como samba-maxixe. Esta vertente era influenciada pela dança maxixe e tocada basicamente ao piano - diferentemente do samba carioca tocado nos morros - e teve como expoente o compositor Sinhô, auto-intitulado "o rei do samba", que com outros pioneiros como Heitor dos Prazeres e Caninha, estabeleceria os primeiros fundamentos do gênero musical.[2]


Turma do Estácio

Artigo Principal: Samba de Morro
Artigo Principal: Turma do Estácio

A especulação imobiliária se espalhava pela cidade do Rio de Janeiro e formava diversos morros e favelas no cenário urbano carioca, que seriam o celeiro de novos talentos musicais. Quase simultaneamente, o "samba carioca" nascido no centro da cidade iria galgar as encostas dos morros e se alastrar pela periferia afora, a ponto de, com o tempo, ser identificado como samba de morro.[14]

No final da década de 1920, nasceu o samba dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz, e dos morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos, que faria inovações rítmicas no samba que perduram até os dias atuais. Deste grupo, se destacaria a chamada "Turma do Estácio", onde surgiria ainda a Deixa Falar, a primeira escola de samba brasileira.

Formada por alguns compositores do bairro do Estácio, entre os quais Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos e mais os malandros-sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem, a "Turma do Estácio" marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve endosso de filhos da classe média, como o ex-estudante de direito Ary Barroso e o ex-estudante de medicina Noel Rosa.

Inicialmente um rancho carnavalesco, posteriormente um bloco carnavalesco e por fim, uma escola de Samba, a Deixa Falar teria sido a primeiro a desfilar no carnaval carioca ao som de uma orquestra de percussões formada por surdos, tamborins e cuícas, aos quais se juntavam pandeiros e chocalhos. Este conjunto instrumental foi chamado de "bateria" e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já era bem diferente dos de Donga, Sinhô e Pixinguinha. O samba feito à moda do Estácio de Sá firmou-se rapidamente como o samba carioca por excelência.[15]

A "Turma do Estácio" fez com que o samba fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no desfile de carnaval, distanciando assim do andamento amaxixado de compositores como Sinhô. Além disso, suas rodas de samba foram freqüentadas por compositores de outros morros cariocas, como Cartola, Carlos Cachaça e posteriormente Nelson Cavaquinho e Geraldo Pereira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacé, Chico Santana, Molequinho, Aniceto do Império Serrano. Acompanhados por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo, estes bambas criavam e difundiam o samba-de-morro.[10]


Popularização

Escolas de samba e o Carnaval

Artigo Principal: Carnaval do Rio de Janeiro
Artigo Principal: Escola de samba
Artigo Principal: Samba-enredo
Artigo Principal: Samba-de-terreiro

Depois da fundação da Deixa Falar, o fenômeno das escolas de samba tomou conta do cenário carioca e ajudou a impulsionar subgêneros do samba, do partido-alto, cantado como desafio nos terreiros, ao samba-enredo, trilha para desfile das Escolas de samba do Rio de Janeiro. Juntamente com as escolas de samba que galgaram estágios de aceitação, admiração e paternalização através dos anos, o samba-enredo se tornou um dos símbolos nacionais.

Inicialmente, o samba-enredo não tinha enredo, mas isso mudou quando o Estado - mais propriamente o Estado Novo de Getúlio Vargas - assumiu a organização dos desfiles e obrigou o sambas-enredo a ser sobre a história oficial do Brasil.[16] A letra do samba-enredo conta uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. Em geral, a música é cantada por um homem, acompanhado sempre por um cavaquinho e pela bateria da escola de samba, produzindo uma textura sonora complexa e densa, conhecida como batucada.

Iniciadas nos moldes dos ranchos carnavalescos, as escolas – inicialmente com Mangueira, Portela, Império Serrano, Salgueiro e, nas décadas seguintes, com Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente – cresceriam até dominar o Carnaval carioca, transformando-o em um grande negócio com forte impacto no movimento turístico.

Durante a década de 1930, era costume em um desfile de escola de samba que, na primeira parte, esta apresentasse um samba qualquer e, na segunda parte, os melhores versadores improvisassem, geralmente com sambas saídos do terreiros das escolas (atuais quadras). Estes últimos ficaram conhecidos como sambas-de-terreiro.

Era do rádio

Artigo Principal: Samba-exaltação
Artigo Principal: Samba-canção

Carmen Miranda no filme The Gang's All Here. Cantora luso-brasileira ajudou a divulgar o samba em nível internacional.

A partir da década de 1930, a popularização do rádio no Brasil ajudou a difundir o samba por todo o país. As emissoras de rádios brasileiras ajudaram a popularizar o samba-canção e o samba-exaltação, sub-gêneros muito executados.

O samba-canção foi lançado em 1928 com a gravação "Ai, Ioiô" (de Henrique Vogeler), na voz de Aracy Cortes. Também conhecido como samba de meio do ano, o samba-canção se firmou na década seguinte. Era uma forma mais lenta e cadenciada do samba e tinha como ênfase musical uma melodia geralmente de fácil aceitação. Esta vertente foi influenciado mais tarde por ritmos estrangeiros, primeiramente pelo fox e, na década de 1940, pelo bolero de enredos sentimentais.

Se o samba de morro tratava de temas diversos como malandragem, mulheres comportadas, favelas, o samba-canção mudou o foco para o lado subjetivo das dores e ingratidões, principalmente pela ótica do sofredor amoroso, tendo como resquício a temática do bolero, quando não assumindo um tom de queixa. Foi considerado um gênero da classe média por excelência. Além de "Ai, Ioiô", alguns outros clássicos do samba-canção foram "Risque", "No Rancho Fundo", "Copacabana" e "Ninguém Me Ama".

Seus mais famosos compositores foram Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Braguinha (conhecido também como João de Barro) e Ataulfo Alves. Outros destaques deste estilo foram Antônio Maria, Custódio Mesquita, Dolores Duran, Fernando Lobo, Henrique Vogeler, Ismael Neto, Lupicínio Rodrigues, Batatinha e Adoniran Barbosa, este último marcadamente por doses satíricas.
Villa-Lobos foi um dos intelectuais renomados que reconheceram o valor do samba.

No final da década de 1950, com o surgimento da bossa-nova, o samba-canção mais voltado para a "fossa" foi sendo um pouco esquecido e passou a dar voz a temáticas mais amenas, como a praia, o mar, o sol, temas cultivados por uma nova geração de compositores como Carlos Lyra, Mario Telles, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli, entre outros liderados pelo poeta Vinicius de Moraes. Este tipo de samba-canção utilizava o compasso 2/4, influenciado pelo violão cool jazz de Barney Kessel e a voz de Julie London no álbum "Julie Is My Name".

Mas a ideologia do Estado Novo de Getúlio Vargas contaminava o cenário do samba. Da malandragem convertido de "O Bonde São Januário" (de Ataulfo Alves e Wilson Batista) chegou-se a "Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso), gravada por Francisco Alves em 1939. A canção foi o carro-chefe do samba-exaltação e primeiro sucesso brasileiro no exterior. O samba-exaltação era caracterizado por composições de melodia extensa e versos patrióticos. A cantora luso-brasileira Carmen Miranda conseguiu projetar o samba internacionalmente a partir do cinema.

Com o suporte do presidente Getúlio Vargas, o samba ganhou status de "música oficial" do Brasil. Mas este status de identidade nacional também veio do reconhecimento de intelectuais como Heitor Villa-Lobos, que organizou uma gravação com o maestro erudito norte-americano Leopold Stokowski no návio Uruguai, em 1940, do qual participaram Cartola, Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Zé da Zilda.

Também na década de 1940, surgia uma nova safra de artistas como Francisco Alves, Mário Reis, Orlando Silva, Silvio Caldas e, mais adiante, Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, entre outros.[2] Novas adesões como de Assis Valente, de Ataulfo Alves, de Custódio Mesquita, de Dorival Caymmi, de Herivelto Martins, de Pedro Caetano, de Synval Silva, conduziram o samba para outros caminhos já ao gosto da indústria musical.

Outras vertentes e variações

Artigo Principal: Samba-de-Gafieira
Artigo Principal: Samba-Choro
Artigo Principal: Samba-de-Breque
Artigo Principal: Sambalada

Ainda durante a década de 1930, mas especialmente a partir de meados da década de 1940 e ao longo da década de 1950, o samba recebeu novas influências de ritmos latinos e norte-americanos. As concentrações urbanas provocaram o aparecimento das primeiras danceterias populares, as chamadas gafieiras, palco para estilos novos que surgiriam dentro do seio do samba, como são os casos dos sincopados samba-choro e samba de gafieira.

O samba-de-gafieira foi um sub-gênero surgido sob influência de ritmos latinos e norte-americanos - geralmente instrumentais e tocados por orquestras norte-americanas (adequada para danças praticadas em salões públicos, gafieiras e cabarés) - que chegavam ao Brasil em meados da década de 1940 e ao longo da década de 1950.

Já o samba-choro era uma variante do samba surgida nos anos 1930 em que se misturam o fraseado instrumental do choro (com flauta) ao batuque do samba. Entre as primeiras composições no estilo, figuram "Amor em excesso" (de Gadé e Valfrido Silva, em 1932) e "Amor de parceria" (de Noel Rosa, em 1935).

Em 1933, Heitor dos Prazeres lançou o samba "Eu choro" e o termo "breque" (do inglês break), então popularizado com referência ao freio instantâneo dos novos automóveis. Assim surgia o samba-de-breque. Variante do samba-choro, o samba-de-breque era caracterizado por um ritmo acentuadamente sincopado com paradas bruscas, os chamados breques, durante a música para que o cantor fizesse uma intervenção. Estas paradas serviam para o cantor encaixar as frases apenas faladas, diálogos ou comentários bem humorados do cantor - conferindo graça e malandragem na narrativa. Luís Barbosa foi o primeiro a trabalhar este tipo de samba, que conheceu em Moreira da Silva o seu expoente máximo. Outro destaque desta vertente foi Germano Mathias.

Década de 1950

Artigo Principal: Bossa Nova
Artigo Principal: Sambalanço

João Gilberto, considerado o fundador da Bossa Nova, em apresentação na Itália em 1996.

Na década de 1950, surgiriam a sambalada - uma espécie de samba-canção com letras românticas e ritmo lento como as baladas lançadas no mercado brasileiro. O partido alto ressurgiu entre os compositores das escolas de samba dos morros cariocas, mas já não estava mais ligado a um tipo de dança, e sim sob a forma de improvisações cantadas feitas individualmente, alternadas com estribilhos conhecidos cantados pela assistência. Entre alguns partideiros, se destacaram Geraldo Pereira, Herivelto Martins e Wilson Batista.

Mas um movimento, nascido na zona sul do Rio de Janeiro e fortemente influenciado pelo jazz, marcaria a história do samba e da música popular brasileira naquela década. A bossa-nova surgiu no final da década de 1950, com uma acentuação rítmica original - que dividia o fraseado do samba e agregava influências do impressionismo erudito e do jazz - e um estilo diferente de cantar, intimista e suave.[17]

Após precursores como Johnny Alf, João Donato e músicos como Luís Bonfá e Garoto, este sub-gênero foi inaugurado por João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e teria uma geração de discípulos-seguidores como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Durval Ferreira e grupos como Tamba Trio, Bossa 3, Zimbo Trio e Os Cariocas.

Também no final da década de 1950, surgiria o sambalanço, uma ramificação popular da bossa nova (que era mais apreciada pela classe média). Também misturava o samba com ritmos norte-americanos como o jazz. O sambalanço foi muito tocado em bailes suburbanos das décadas de 1960, 1970 e 1980.

Este estilo projetou artistas como Bebeto, Bedeu, Copa 7, Djalma Ferreira, Os Devaneios, Dhema, Ed Lincoln e Seu Conjunto, Elza Soares, Grupo Joni Mazza, Luis Antonio, Luís Bandeira, Luiz Wagner, Miltinho, entre outros. Já no século XXI, grupos como o Funk Como Le Gusta e Clube do Balanço deram continuidade aos bailes e mantêm vivo este sub-gênero.

Década de 1960

Reaproximação com o morro

Artigo Principal: Bienal do Samba

Nelson Sargento em show no Sesc Esquina, Curitiba, em 2007. Artista integrou o conjunto A Voz do Morro

Com a bossa nova, o samba se afastou ainda mais de suas raízes populares. A influência do jazz aprofundou-se e foram incorporadas técnicas musicais eruditas. A partir de um festival no Carnegie Hall de Nova York, em 1962, a Bossa nova alcançou sucesso mundial. Mas ao longo das décadas de sessenta e setenta, muitos artistas que surgiam - como Chico Buarque de Holanda, Billy Blanco, Martinho da Vila e Paulinho da Viola defenderam o retorno do samba a sua batida tradicional, com a reaparição de veteranos como Candeia, Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti.

No início da década de 1960 foi criado o "Movimento de Revitalização do Samba de Raiz", promovido pelo Centro Popular de Cultura, em parceria com a União Nacional dos Estudantes. Foi o tempo do aparecimento do bar Zicartola, dos espetáculos de samba no Teatro de Arena e no Teatro Santa Rosa e de musicais como "Rosa de Ouro". Produzido por Hermínio Bello de Carvalho, o "Rosa de Ouro" revelou Araci Cortes e Clementina de Jesus.

Dentro da bossa nova surgiram dissidências. Uma delas gerou os Afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Além disso, parte do movimento se aproximou de sambistas tradicionais, revalorizando o samba do morro, especialmente de Cartola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti e, mais adiante, Candeia, Monarco, Monsueto e Paulinho da Viola.[1] A exemplo do sambista Paulo da Portela, que intermediou as relações do morro com a cidade quando o samba era perseguido, Paulinho da Viola - também da Portela - seria uma espécie de embaixador do gênero tradicional diante de um público mais vanguardista, entre os quais os tropicalistas. Também do interior da bossa nova apareceria Jorge Ben para dar sua contribuição autoral mesclada com o rhythm and blues norte-americano, que mais adiante suscitaria o aparecimento de um subgênero apelidado suíngue (ou samba-rock). [2]

Durante os anos sessenta, apareceram grupos formados por sambistas com experiências anteriores no universo do samba e músicas gravadas por grandes nomes da MPB. Entre eles, estavam Os Cinco Crioulos (composto por Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Paulinho da Viola, substituído mais tarde por Mauro Duarte), A Voz do Morro (composto por Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento, Oscar Bigode, Paulinho da Viola, Zé Cruz e Zé Kéti), Mensageiros do Samba (Candeia e Picolino da Portela), Os Cinco Só (Jair do Cavaquinho, Velha, Wilson Moreira, Zito e Zuzuca do Salgueiro).

Fora da cena principal dos chamados festivais de Música Popular Brasileira, o samba encontraria na Bienal do Samba, no final dos anos sessenta, o espaço destinado a grandes nomes do gênero e seguidores. Ainda naquele final de década, aparecia o chamado "samba-empolgação" dos blocos carnavalescos Bafo da Onça (Catumbi), Cacique de Ramos (Olaria) e Boêmios de Irajá (Irajá).[1]

Fusões com o Funk e o Rock

Artigo Principal: Samba-Funk
Artigo Principal: Samba-Rock

Também na década de 1960, surgiram o samba-rock e o samba-funk. O primeiro era a mescla do samba com o rock e nasceu na cidade de São Paulo. Era proveniente dos bailes freqüentados pelo público negro em pontos específicos da cidade, como a Barra Funda, ou em bairros da Zona Norte, que tiveram inicio da década anterior. A mistura do rock and roll com o samba foi registrado pela primeira vez no LP "Chá Dançante", de Waldir Calmon, em 1958. Neste álbum, a faixa "Rock Around the Clock" unia o ritmo do samba e com o rock norte-americano. Mas foi durante a década de 1960 que o samba-rock ganhou espaço, que também foi apelidado como "samba solto", devido a sua forma de dançar. No fim dos anos sessenta, este estilo começou a ser dançado com a mistura de passos de rock (giros, e movimentos trançando braços) e samba (movimento dos pés, cintura, e quadril). Posteriormente, o samba-rock incorporou à black music norte-americana e se popularizou no fim dos década de 1970, com os bailes black nas principais cidades do país, que reuniam principalmente jovem moradores das periferias.

Já o samba-funk surgiu no final da década de 1960 com o pianista Dom Salvador e o seu Grupo Abolição, que mesclavam o samba com o funk norte-americano recém-chegado em terras brasileiras. Com a ída definitiva de Don Salvador para os Estados Unidos, o grupo encerrou as atividades, mas no começo da década de 1970 alguns ex-integrantes como Luiz Carlos Batera, José Carlos Barroso e Oberdan Magalhães se juntaram a Cristóvão Bastos, Jamil Joanes, Cláudio Stevenson e Lúcio da Silva para formar a Banda Black Rio. O novo grupo aprofundou o trabalho de Don Salvador na mistura do compasso binário do samba brasileiro com o quaternário do funk americano, calcado na dinâmica de execução, conduzida pela bateria e baixo. Mesmo após o fim da Banda Black Rio, em 1980, DJs britânicos passaram a divulgar o trabalho do grupo e o ritmo fora redescoberto em toda a Europa, principalmente na Inglaterra e Alemanha.[1]

Década de 1970

Artigo Principal: Partido Alto
Artigo Principal: Samba-Jóia

Martinho da Vila, um dos artistas que popularizaram o partido-alto.

No começo da década de 1970, novamente o samba viveria um período de revalorização, que projetaria cantoras como Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes - ambas com grandes vendagens de discos -,[18] além do cantor Roberto Ribeiro e dos compositores João Nogueira, Nei Lopes e Wilson Moreira. O samba passou a ser novamente muito executado nas rádios, com grande destaque para sua vertente partido-alto e com o domínio das paradas de sucesso por artistas como Martinho da Vila, Bezerra da Silva, Clara Nunes e Beth Carvalho.

Na virada da década de 1960 para a década de 1970, o jovem Martinho da Vila daria uma nova face aos tradicionais sambas-enredo consagrados por autores como Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, compactando-os e ampliando sua potencialidade no mercado musical. Além disso, Matinho popularizaria o samba-de-partido-alto (com canções como "Casa de Bamba" e "Pequeno Burguês"), lançadas no seu primeiro álbum em 1969.

Embora o termo tenha surgido no início do século XX nas rodas na casa da Tia Ciata - inicialmente para designar música instrumental -, o partido alto passou a ser utilizado para denominar um tipo de samba que é caracterizado por uma batida de pandeiro altamente percussiva, com uso da palma da mão no centro do instrumento para estalos. A harmonia do partido alto é sempre em tom maior, geralmente tocado por um conjunto de instrumentos de percussão (normalmente surdo, pandeiro e tamborim) e acompanhado por um cavaquinho e/ou por um violão.

O partido alto costuma ser dividido em duas partes: o refrão e os versos. Segundo Nei Lopes[19], o partido alto é considerado como a forma de samba que mais se aproxima da origem do batuque angolano, do Congo e regiões próximas. No final da década de setenta, partido-alto seria a base de um novo movimento que nascido nas rodas de samba do bloco Cacique de Ramos, o chamado pagode ou pagode de raiz.

Também naquela década, muitos críticos musicais cunharam em sentido pejorativo os termos samba-jóia ou sambão-jóia, cpara designar um tipo de samba supostamente de qualidade duvidosa ou cafona. Outros críticos perceberam no termo - e nos cantores e compositores a ele relacionado - uma certa importância para a MPB.

Entre alguns nomes do samba-jóia, estavam Agepê (interprete de "Moro onde não mora ninguém"), Antonio Carlos e Jocafi (de "Você abusou"), Benito Di Paula (de "Retalhos de cetim" e às vezes também classificado como "sambolero", pois usava freqüentemente em suas apresentações piano, timba] e chimbal), Luiz Ayrão (de "Mulher à brasileira"), Jorginho do Império (de "Dinheiro vai, dinheiro vem"), Os Originais do Samba (de "Falador Passa Mal"), Tom e Dito (de "Tamanco malandrinho"). Beth Carvalho também emplacaria "Vou Festejar" e "Coisinha do Pai", dois sambas chamados "jóias logo aceitos por várias faixas sociais - principalmente pelas mais baixas -, mas considerados por alguns críticos como de "qualidade duvidosa".[18]

Outros críticos, no entanto, valorizavam o fato deste estilo de samba recolocá-lo nas principais emissoras de rádio e TV do país, além de serem responsáveis por vendas expressivas de discos do gênero naquela década.[1] Parte da crítica favorável via em "Tonga da Mironga do Kabuletê" (de Toquinho e Vinícius de Moraes) como exemplos de samba-jóia.

Ainda na década, se destacaria na cidade de São Paulo Geraldo Filme, um dos principais nomes do samba paulistano - ao lado de Germano Mathias, Osvaldinho da Cuíca, Tobias da Vai-Vai, Aldo Bueno e Adoniran Barbosa, este último já devidamente reconhecido nacionalmente antes de ser relembrado e regravado com mais freqüência nos anos setenta. Sambista da Barra Funda, um reduto do samba paulistano, Firme era também freqüentador das rodas de "Tiririca", no Largo da Banana, e montou os espetáculos "Balbina de Yansã" e "Pagodeiros da Paulicéia", em parceria com Plínio Marcos. Em Salvador, compositores como Riachão, Panela, Batatinha, Garrafão e Goiabinha, foram seguidos por Tião Motorista, Chocolate, Nélson Balalô, J. Luna, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Walmir Lima, Roque Ferreira, Walter Queirós, Paulinho Boca de Cantor e Nélson Rufino, que mantiveram a tradição dos sambas-de-roda e samba-coco. E ao final da década, João Bosco em dupla com o poeta Aldir Blanc - dois discípulos dos estilos de violão tocados por Baden Powell, Dorival Caymmi e Gilberto Gil - também ajudariam a renovar o samba tradicional (inclusive o de enredo) - algo que Aldir continuaria a fazer com novos parceiros como Guinga e Moacyr Luz na década de 1990.[1]

Década de 1980

Artigo Principal: Pagode (música)

Zeca Pagodinho é um dos sambistas mais populares do Brasil.

Depois de um período de esquecimento onde as rádios eram dominadas pela Disco Music e pelo rock brasileiro, o samba consolidou sua posição no mercado fonográfico na década de 1980. Compositores urbanos da nova geração ousaram novas combinações, como o paulista Itamar Assumpção, que incorporou a batida do samba ao funk e ao reggae em seu trabalho de cunho experimental. Mas foi no início da década de 1980 que o samba reapareceu no cenário brasileiro com um novo movimento, chamado de pagode. Com características do choro e um andamento de fácil execução para os dançarinos, o pagode é basicamente dividido em duas tendências. A primeira delas é mais ligada ao partido-alto, também chamada de pagode de raiz, que conservava a linhagem sonora e fortemente influenciada por gerações passadas. A segunda tendência, considerada mais "popular", ficou conhecida como "pagode-romântico" e passou a ter grande apelo comercial na década de 1990 em diante.

Nascido no final da década anterior, por meio das rodas de samba que um grupo de cantores e compositores faziam embaixo da tamarineira da quadra do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, o pagode era um samba renovado, que utilizava novos instrumentos que davam uma sonoridade peculiar àquele grupo, como o banjo com braço de cavaquinho (criado por Almir Guineto) e o tantã (criado por Sereno), e uma linguagem mais popular.

Pontuado pelo banjo e pelo tantã, o pagode seria uma resposta ao ocaso do samba no início dos anos oitenta, que teria obrigado os seus seguidores a se reunirem em fundos de quintal para mostrar suas novas composições diante de uma platéia de vizinhos. Este ramal do samba, movido a partido-alto, revelaria inicialmente nomes como Almir Guineto, Jorge Aragão, Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho (o único que se firmaria ao fim da onda inicial) - além do Grupo Fundo de Quintal, que revelaria ainda a dupla Arlindo Cruz e Sombrinha. Também partideiro, da década anterior, Bezerra da Silva emplacaria seus chamados "sambandidos", canções com enredos que documentavam a guerra civil da sociedade partida.[2]

Década de 1990

Artigo Principal: Samba Rap
Artigo Principal: Samba Reggae

No final da década de 1980, o pagode enchia salões e, no início dos anos noventa, as grandes gravadoras criaram o "pagode-romântico". Vertente mais distanciada do pagode de raiz do final dos anos setenta, o pagode romântico se tornaria um fenômeno comercial, com o lançamento de dezenas de artistas e grupos paulistas, mineiros e cariocas, entre os quais, Art Popular, Exaltasamba, Harmonia do Samba, Irradia Samba e Kaô do Samba, Raça Negra, Só Pra Contrariar, entre outros.

Sua massificação nas emissoras de rádios e TVs ajudou a melhorar a arrecadação de direitos autorais e fez com que as músicas norte-americanas ficassem em segundo lugar em arrecadação durante aquela década, algo inédita no Brasil. Apesar disso, este tipo de pagode desagrada grande parte da crítica musical, que questiona especialmente a qualidade das músicas.[1]

Em 1995, o compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz reorganizou o "Pagode do Trem", fazendo com que o evento entrasse para o calendário turístico da cidade do Rio de Janeiro, sendo apresentado no Dia Nacional do Samba, em 2 de dezembro. O "Pagode no Trem" era inspirado nos encontros organizados por Paulo da Portela com sambistas de Madureira e Oswaldo Cruz, subúrbios do Rio de Janeiro, durante a década de 1930. após um dia de trabalho, estes sambistas voltavam para Oswaldo Cruz no trem do início da noite e, em um desses vagões, organizavam reuniões e discutiam a organização do carnaval, sempre com muito samba.[1]

Ainda nos anos noventa, apareceram mais duas fusões de samba com outros gêneros musicais. O primeiro deles foi o samba-rap, criado nas favelas e presídios paulistanos e cariocas. O outro foi o samba-reggae, este surgido a partir de manifestação de grupos baianos, cariocas e paulistas em modificar o pagode tradicional e o transformar em um samba suingado.
Samba no Século XXI

No início do século XXI, o samba retomaria a tradição do partido-alto. A partir do ano 2000, surgiram diversos artistas em vários Estados, que deram continuidade a este estilo popular. São os casos de Marquinhos de Oswaldo Cruz, Teresa Cristina e Grupo Semente, e outros que contribuíram para a revitalização da Lapa, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o samba retomou a tradição com shows no Sesc Pompéia e ainda através do trabalho de vários grupos, entre eles, o grupo Quinteto em Branco e Preto que desenvolvia o evento "Pagode da Vela". Isso tudo contribuiu para atrair vários artistas do Rio de Janeiro que, além de shows, fixaram residência em bairros da capital, como São Mateus.[1]

Em 2004, o então ministro da cultura Gilberto Gil apresentou à Unesco o pedido de tombamento do samba como Patrimônio Cultural da Humanidade, na categoria "Bem Imaterial", através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. No ano seguinte, o samba-de-roda do Recôncavo Baiano foi proclamado "Patrimônio da Humanidade" pela Unesco, na categoria de "Expressões orais e imateriais".

Em 2007, o IPHAN conferiu registro oficial, no Livro de Registro das Formas de Expressão, às matrizes do samba do Rio de Janeiro: samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo.
Instrumentos do samba

Artigo Principal: Instrumentos de Samba

O samba é tocado basicamente por instrumentos de percussão e acompanhado por instrumentos de corda. Em vertentes como o samba-exaltação e o samba-de-gafieira, foram acrescentados instrumentos de sopro.

Ver também

* Carnaval do Brasil
* Escola de samba
* Samba de roda

Comentários