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Febrônio Índio do Brasil


Uma espécie de "bicho-papão" para as crianças brasileiras das décadas de vinte e trinta (era comum os pais dizerem "se você não se comportar, o Febrônio vai te pegar", para as crianças que faziam malcriações), ganhou esta fama ao ser preso, em 1927, sob a acusação de ter estrangulado dois menores que resistiram a seus ataques homossexuais: Almiro José Ribeiro, em 17 de agosto, e João Ferreira, no dia 29 do mesmo mês. Os corpos, encontrados na Barra da Tijuca, tornaram Febrônio um dos criminosos mais conhecidos do Brasil.
Mas o mineiro Febrônio Índio do Brasil, já era velho conhecido da polícia, tendo sua primeira prisão ocorrido em 1916, aos 21 anos, depois da qual acumularam-se outras 29, por motivos diversos como roubo, vadiagem e chantagem. Além disso, segundo palavras do diretor da Casa de Detenção a seu respeito: "consta que (...) entrega-se ao vício da pederastia". Febrônio também dedicava-se ao exercício ilegal da medicina e odontologia - consta que duas crianças morreram no Espiríto Santo após receberem medicação prescrita por ele.
Febrônio também escreveu um livro, "Revelações do Príncipe do Fogo", que ele próprio mandou imprimir e vendia de mão em mão. Com prosa apocalíptica e tumultuada, inspirou modernistas como o brasileiro Mário de Andrade e o francês Blaise Cendrars, que escreveram sobre ele.
No julgamento, o advogado Letácio Jansen, solicitou sua internação "numa casa de loucos onde
haja a devida segurança e precisa vigilância". Com sua insanidade sendo atestada pelo perito Heitor Carrilho, o juiz Ary de Azevedo o considerou inimputável. No hospício, inicialmente Febrônio tentou reduzir sua pena, reivindicar a soltura em petições a juízes ou obter transferência para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Tinha como objetivo fugir, o que conseguiu em 1935, mas sua sorte durou pouco, sendo recapturado após somente um dia de liberdade. Após isso, entrou em processo de demência.
O médico Heitor Carrilho (que hoje empresta o nome ao hospício) ficou de dezembro de 1927 a janeiro de 1929 examinando o "louco moral e homossexual com impulsões sádicas", solicitando depois sua "segragação ad vitam (enquanto vivo)". Num laudo de trinta e quatro folhas, determinou o sepultamento em vida do homem que, a partir de 1936, foi esquecido, passando longos períodos na solitária. Em junho de 1984 foi lançado o curta-metratgem "O Príncipe do Fogo", de Sílvio DaRin, tendo Febrônio como tema. Dois meses depois, aos 89 anos e completamente senil, o preso mais antigo do Brasil, interno número 000001 do Manicômio Judiciário, morreu de edema pulmonar agudo. Havia passado 57 anos no hospício.

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